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A notícia foi confirmada pelo atual presidente do país; ontem, a mulher de Mujica, Lucía Topolanski, havia revelado que ele estava em ‘fase terminal’ de câncer no esôfago e recebia cuidados paliativos para aliviar a dor

O ex-presidente do Uruguai  Pepe Mujica morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos. A notícia foi confirmada nas redes sociais pelo atual presidente do país, Yamandú Orsi. “Com profunda dor, comunicamos que faleceu nosso companheiro Pepe Mujica. Presidente, militante, referência e líder. Vamos sentir muito a sua falta, querido Velho. Obrigado por tudo o que nos deu e por seu profundo amor pelo seu povo”, escreveu Orsi.

Nascido na periferia de Montevidéu, na década de 1930, Mujica precisou trabalhar desde cedo, após perder o pai com sete anos de idade. Ainda na infância, ele vendia flores para ajudar a mãe e participava de competições de ciclismo nos clubes locais. O início na militância política começou cedo.

Sob influência do tio, Mujica se filiou ao Partido Nacional, de centro-direita, na década de 50, onde teve os primeiros contatos com congressistas, mas pouco tempo depois, veio a guinada à esquerda. Após deixar o Partido Nacional, Pepe lançou a União Popular, que participou das eleições de 1962, com um resultado pouco expressivo. A militância logo tomou outros contornos. Em 1964, Mujica criou e participou do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, uma guerrilha de extrema-esquerda. Em 1970, sob ordens do presidente Jorge Pacheco Areco, as Forças Armadas ampliaram as operações contra os Tupamaros.

Prisão e resistência política

Em 1972, já sob o governo de Juan María Bordaberry, o país declarou estado de guerra contra o movimento. Neste período, Mujica foi preso em quatro diferentes ocasiões e chegou a protagonizar duas fugas consideradas históricas do presídio de Punta Carretas. A última prisão foi em 1972, e durou 13 anos, sem nunca ter passado por um julgamento. Em junho de 1973, Bordaberry, com apoio das Forças Armadas, dissolveu o congresso uruguaio, proibiu os partidos políticos e tornou ilegais as organizações sindicais e estudantis. A medida deu início a uma ditadura cívico-militar no país que durou 12 anos.

Ápice da vida política

Em 1994, foi eleito deputado por Montevidéu. Cinco anos depois, foi eleito senador e viu o MPP se tornar o principal grupo dentro da coalizão. Em 2004, pela primeira vez na história, um nome de esquerda venceu as eleições no Uruguai, com Tabaré Vázquez. A vitória da Frente Ampla levou Pepe Mujica ao cargo de ministro da agricultura e pesca uruguaia. Mas o ápice da carreira política ainda estava por vir. Em 2009, com mais de 9% de vantagem, Mujica foi eleito presidente do país, para o período entre 2010 e 2015.

Como chefe do executivo, Pepe ficou conhecido por feitos históricos. Nos cinco anos à frente do país, ele assinou a despenalização do aborto, a legalização da maconha e do casamento homoafetivo. O período também ficou marcado por grandes avanços na economia. O desemprego caiu de 13 para 7%, o salário mínimo subiu 250%, os investimentos estrangeiros aumentaram e a pobreza caiu consideravelmente. O governo foi considerado um sucesso.

Em 2015, Tabaré Vázquez voltou ao poder e Mujica foi eleito senador por mais cinco anos, entregando o cargo em outubro de 2020. Ao longo de toda a carreira, e principalmente durante a presidência, Mujica ficou conhecido pela simplicidade. O político abriu mão da residência presidencial e seguiu morando em uma pequena fazenda nos arredores de Montevidéu. 90% do salário de presidente era doado à caridade, e o veículo utilizado para ir trabalhar todos os dias era um Fusca, modelo 1987.

LUla senra no banco de carona do Fusca azul claro de Mujica

Presidente Lula com José Mujica em Montevidéu, no Uruguai, em 25/01/2023 (Ricardo Stuckert /PR)

Vida privada e últimas aparições

Desde 2005, era casado com Lucía Topolansky, sua parceira desde a década de 70, ainda na época de luta armada. A ex-primeira-dama também ingressou na vida política, sendo eleita senadora e vice-presidente. Eles não tiveram filhos. Em abril de 2024, Pepe Mujica anunciou o diagnóstico de um câncer no esôfago, com riscos agravados por uma doença autoimune.

Uma das últimas aparições públicas foi em um vídeo exibido no último comício de Yamandú Orsi, nas eleições de novembro do ano passado. já no começo de 2025, em conversa com uma revista uruguaia, Mujica afirmou que a doença havia retornado e se espalhado pelo corpo, optando por abrir mão do tratamento. na publicação, ele revelou que preferiu passar os últimos meses se despedindo dos compatriotas e cuidando da fazenda. Na mensagem final, as palavras de José Alberto Mujica Cordano valem para todos: “A vida é uma bela aventura e um milagre”.

Com informações da AFP