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“Eu não tive infância, por isso não estudei”. A frase é forte e vem de uma mulher que não teve a chance de buscar a realização do sonho de ser uma chef de cozinha. Aos 65 anos, ela nunca havia frequentado uma escola e, por isso, não conseguia ler as receitas. Mas agora se orgulha do aprendizado que tem, aos poucos, conquistado com muito esforço e alegria.

Na segunda reportagem da série ‘Mulher: a força que sai do caos e conquista a ordem’, vamos conhecer a história de Marlene Pereira Lima, aluna da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Secretaria de Educação e Cultura de João Pessoa (Sedec-JP). As aulas, ela frequenta na Casa Doce Mãe de Deus, no bairro do Cristo Redentor.
“Eu tive que trabalhar aos cinco anos de idade. Não tinha como estudar, aprender a ler e escrever. Eu nunca fui numa sala de aula. A primeira vez que estou vindo é essa agora”, completa dona Marlene, revelando que entrou na EJA há cinco meses.
O passado de uma vida sem alfabetização da aposentada traz à tona uma lembrança triste de humilhações experimentadas com pessoas que têm o alfabeto na ponta dos dedos, mas nunca conquistaram a educação verdadeira. Aquela que tem empatia e dignifica os valores humanos.
“Na época, a pessoa que eu vivia me mandou um dinheiro, que era muito, e eu só podia retirar do banco se assinasse e eu não sabia nem escrever o nome. Levei nome de burra do gerente. Isso foi tão humilhante, ficou marcado para mim. Ele me disse que eu era burra, porque não sabia nem assinar o meu nome”, conta ainda guardando certa revolta.
Para Marlene Pereira, a alfabetização não significa apenas o processo de aprender a ler e escrever. Vai além! Revela a ela um mundo inteiro de direitos conquistados, que devem ser respeitados. “Se na época que eu escutei essa palavra fosse hoje, ele teria sido processado, porque ele acabou com a minha autoestima, me deixou lá para baixo. Ele podia muito bem ter conversado comigo direito, por ser uma pessoa que tinha estudado, tem que conversar direito, mas não fez assim. O que ele fez foi inadmissível”, relembra indignada.

Marlene Pereira Lima, no entanto, não ficou presa ao passado. Reagiu! Decidiu mudar e quando viu a oportunidade da EJA, não pensou duas vezes. Ergueu a cabeça, reuniu as forças que tinha e recomeçou. De onde veio a força? Com a resposta, ela mesma. “Vem de dentro de mim, a vontade que eu tenho de querer aprender a ler e eu vou chegar lá, em nome de Jesus, eu creio que isso vai acontecer!. Eu vou saber ler, isso para mim vai ter importância muito grande”, falou.
Agora, o que ela espera da felicidade é: “Minha filha, o que eu espero de felicidade é poder ler a Bíblia, a palavra de Deus, é o que mais quero. Até falei para minha filha: quando eu aprender a ler eu quero uma Bíblia. E eu vou ler a Bíblia”, conclui emocionada.
Ler e escrever, direitos fundamentais – Educação não é apenas a aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano, como identifica o dicionário. Por ela, vem o conhecimento, e com o conhecimento, a liberdade. Quem entende isso muito bem é uma mulher que se alegra ao presenciar as conquistas alcançadas por meio da educação: América de Castro, secretária de Educação e Cultura de João Pessoa (Sedec-JP).
“Refletimos um pouco como a rede educacional de João Pessoa pode ajudar a essas mulheres, que no período escolar não tiveram a oportunidade de ir à escola, garantir o direito à leitura e a escrita, que a permite em especial a transformação para o mundo do conhecimento. Na EJA, temos a inclusão de muitas mulheres que conseguem aprender e desenvolver autonomia para uma vida mais digna”, celebra.


América de Castro é uma entusiasta de todo projeto pensado para alavancar a Educação na Capital. A gestora busca promover na vida das mulheres as oportunidades que elas não tiveram, independente da idade. “O mais importante é vermos nossas alunas com a autoestima elevada pela aprendizagem e se sentirem importantes como mulheres, construindo sonhos que dificilmente teriam sem a oportunidade de aprender a ler e escrever e até concluir seus estudos. Temos em 2025, no município de João Pessoa, 42 escolas ofertando a EJA e cerca de 25 turmas dentro das comunidades em parceria com instituições da sociedade civil”, pontou a secretária.
América acrescentou que, em março, terão vagas em 50 turmas de Alfabetização para mil novos estudantes, pessoas maiores de 15 anos. Estas turmas são do Programa Brasil Alfabetizado (PBA), em parceria com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), e estão dentro do Programa Escola de Gente Grande da Prefeitura de João Pessoa.
Não importa a idade, a educação sempre traz consigo o poder de mudar vidas. Educação não tem prazo de validade; sempre é tempo de aprender e crescer. Afinal de contas, “o homem não é nada além daquilo que a educação faz dele” (Immanuel Kant).
Com informações da SECOM-PMJP