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Acirramento da tensão com o governo sandinista ocorre no momento em que Itamaraty tenta se posicionar como mediador diante de questão eleitoral venezuelana
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu nesta quinta-feira (8) expulsar a embaixadora da Nicarágua, Fulvia Patricia Castro Matu. A decisão foi uma resposta à ordem da ditadura de Daniel Ortega de mandar embora do país o embaixador brasileiro em Manágua, Breno Souza da Costa. A expulsão da embaixadora da Nicarágua foi anunciada após reunião entre Lula e o chanceler, Mauro Vieira. Fulvia Matu recebeu a aceitação do Itamaraty em 22 de maio, mas não chegou a ser recebida pelo presidente brasileiro. Ela ainda estava na fila quando a crise começou. Por enquanto, não há planos de rompimento de relações diplomáticas.
A ordem de Ortega para expulsar o embaixador brasileiro, que se tornou pública ontem (8), foi uma retaliação pela ausência de Souza da Costa na celebração dos 45 anos da Revolução Sandinista. Ao ser notificado sobre a queixa, o governo brasileiro chegou a pedir à Nicarágua que ponderasse, mas ficou sem resposta. O gesto de expulsar embaixadores, algo grave na diplomacia, marca o distanciamento entre Lula e Ortega. O presidente brasileiro tem uma relação de longa data com Ortega, mas tensionada pela perseguição a líderes católicos na Nicarágua.
“É preciso analisar essa situação muito em paralelo com o que está acontecendo na Venezuela”, afirma Daniel Buarque, doutor em relações internacionais e editor executivo do portal Interesse Nacional. Segundo ele, o eventual rompimento das relações da Nicarágua com o Brasil e a tensão que se segue após a reeleição fraudulenta de Maduro evidenciam a radicalização desses dois regimes — o que representa um desafio, mas também uma oportunidade para o governo brasileiro. “É uma chance de Lula adotar uma posição menos leniente com esses governos autoritários de esquerda, de demonstrar que vai defender a democracia e não pretende aceitar governos autoritários apenas por questões ideológicas”, afirma Buarque.
Ao mesmo tempo, segundo ele, as relações com esses países são importantes para o Brasil se posicionar como líder na América Latina, como almeja o presidente Lula. “Fica mais difícil propor saídas para o autoritarismo agora que esses países estão mais hostis à presença do Brasil, mas esse é um desafio que o país tem de enfrentar sem ser leniente.” “Não adianta querer ser um líder global que respeita a soberania dos países e abraçar ditador como se estivesse tudo bem, porque não está”, continua. “É a oportunidade de ter uma relação mais formal, que consiga pressionar esses países sem partir da simpatia ideológica”.
*Com informações do Estadão Conteúdo