Preso sob a acusação de comprometer as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, o delegado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa de Araújo Júnior, negou diversas vezes, em depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, qualquer relação com os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, presos em março sob a acusação de serem os mandantes dos crimes.
O deputado Chiquinho Brazão (RJ) responde a processo que pode levar à cassação do seu mandato.
Indicado como testemunha de defesa de Brazão, Rivaldo Barbosa disse aos deputados que sua indicação para o cargo de chefia na Polícia Civil não foi influenciada pelos irmãos Brazão. Barbosa foi chefe de Polícia Civil durante as investigações do assassinato, de março a dezembro de 2018, tendo assumido o cargo dias antes das execuções.
“Desde o dia em que eu nasci, eu nunca falei com nenhum irmão Brazão. Eu nunca falei com essas pessoas na minha vida. Eu estou aqui preso há quase quatro meses e a única coisa que eu fiz foi indicar o delegado Giniton [Lages], que efetivamente prendeu com provas técnicas o Ronnie Lessa”.
Lessa é o assassino confesso da vereadora e de Anderson.
O relatório da Polícia Federal aponta que a Delegacia de Homicídios, de Giniton Lages, “pode ter sabotado as investigações”. O texto revela, por exemplo, negligência da delegacia em recolher imagens do veículo usado no crime.
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) questionou Barbosa sobre ações da polícia que teriam dificultado as investigações. Segundo a delação de Ronnie Lessa, Barbosa teria dado aval aos irmãos Brazão de que o crime ficaria impune.
Em resposta, Rivaldo Barbosa reforçou que é inocente e disse que sua prisão se deve à uma retaliação de Ronnie Lessa, preso por ser o executor de Marielle e Anderson.
“Eu vim aqui apenas para que eu pudesse falar, porque desde o dia 24 de março eu tô aqui nesse local e estou inocente. A coisa que eu fiz foi indicar o delegado que prendeu quem está me acusando.”
Outras duas testemunhas indicadas pela defesa de Brazão afirmaram ao Conselho de Ética que ficaram “surpresas” e “espantadas” ao tomar conhecimento da prisão do parlamentar como suposto mandante dos assassinatos.
Willian Coelho, vereador da Câmara Municipal do Rio há 12 anos, declarou que não há razões para ligar Chiquinho Brazão a grupos paramilitares no Rio de Janeiro. Sobre a atuação de Brazão como vereador, incluindo a relação dele com Marielle Franco, Coelho disse que nunca presenciou nenhuma inimizade com ela ou com qualquer outro vereador.
Também ouvido como testemunha de defesa, o ex-deputado federal Paulo Sérgio Ramos Barboza, que já foi parlamentar pelo Psol e participou da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, também se disse surpreso com o suposto envolvimento dos irmãos Brazão no caso Marielle e Anderson. Ele defendeu que investigações sejam aprofundadas e que a presunção de inocência do deputado seja assegurada.
Presidente do Conselho de Ética, o deputado Leur Lomanto Júnior (União-BA) reafirmou que Chiquinho Brazão será ouvido pelo Conselho de Ética nesta terça-feira (16), juntamente com o irmão Domingos Brazão, Thiago Kwiatkowski, conselheiro do Tribunal de Contas do RJ e Carlos Alberto Lavrado Cupello, conhecido como Tio Carlos (Solidariedade-RJ).
Com informações da Rádio Câmara, de Brasília, Murilo Souza.