Usuários de compostos químicos chamados IBPs – princípio ativo da maioria dos medicamentos que combatem gastrite, refluxo e úlceras, como o omeprazol – têm 2,4 vezes mais chances de desenvolver câncer de estômago. A descoberta foi feita em um artigo científico publicado na última terça-feira (31) por pesquisadores da Universidade de Hong Kong.
Os inibidores da bomba de prótons (IBP) atuam reduzindo a produção de ácido pelas paredes do estômago. Estima-se que 40% da população adulta sofra ou já tenha sofrido de refluxo gastroesofágico – ou seja, azia – em algum momento de suas vidas, o que fez do omeprazol o mais vendido: no final dos anos noventa, era a droga mais vendida no mundo.
Devido ao seu sucesso global e decisivo, também tem sido objeto de muita investigação científica. Seu consumo prolongado já foi associado ao câncer em artigos científicos antigos, mas um detalhe impediu que os pesquisadores batessem o martelo: bactérias, com o nome científico Helicobacter pylori, que vivem no estômago e podem ser tão culpadas quanto um medicamento para incentivar o aparecimento de tumores.
Para evitar essa variante traiçoeira, o Dr. Ka Shing Cheung e sua equipe analisaram o desenvolvimento da condição clínica de 63.400 cidadãos de Hong Kong. Todos receberam prescrições para uso prolongado de antiácidos entre 2003 e 2012, e também tomaram antibióticos para eliminar H. pylori. Parte do grupo fazia uso de IBP, como o omeprazol. Outro grupo consumiu anti-H2, uma família de drogas menos eficazes, mas com a mesma função. Ao final do estudo, 153 pessoas tinham câncer de estômago.
Em suma, era a situação ideal. As bactérias estavam fora do jogo, incapazes de influenciar o resultado. E uma parcela dos pacientes não usava omeprazol, o que lhes permitiu comparar seus efeitos colaterais com os de medicamentos com outros princípios ativos – revelando assim o que apenas os inibidores da bomba de prótons podem causar.
Pacientes que tomavam omeprazol diariamente tinham quatro vezes mais câncer do que usuários semanais. Aqueles que foram tratados com o medicamento por mais de um ano têm cinco vezes mais chances de desenvolver a doença – a partir de três anos, oito vezes. Em média, o consumo de IBPs aumenta o risco do paciente sofrer um tumor a longo prazo duas vezes e meia.
É importante ressaltar que o estudo é estatístico: não foi encontrado nenhum mecanismo bioquímico que explique por que, na prática, drogas como o omeprazol são capazes de provocar o problema. Além disso, a análise de uma enorme quantidade de prontuários impediu que os pesquisadores levassem em conta variáveis específicas, como o consumo de álcool e tabaco. Em outras palavras, mesmo que os números – combinados com a longa lista de estudos já disponíveis sobre os riscos dos inibidores da bomba de prótons – deem força à ligação, você não precisará (e não deve) parar de usar o medicamento. Ainda há muita pesquisa por vir.
“Há uma relação clara entre o tamanho da dose e o consumo de dose de inibidores da bomba de prótons e o risco de câncer de estômago”, conclui o artigo. “Os médicos devem ter cautela ao prescrever medicamentos PPI aos pacientes, mesmo após a eliminação do H. pylori.”
Com informações da Rede Brasil News