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Estimativas precisas são difíceis, mas uma empresa de controle de pragas fala em cerca de 3 milhões de roedores; esterilização

Por quase 60 anos, as autoridades da cidade de Nova York entenderam que não poderiam se livrar dos ratos por meio da matança. Esses pequenos roedores são procriadores prodigiosos — um casal tem o potencial de produzir 15 mil descendentes em um ano. Governantes tentaram repetidamente contornar a situação com contraceptivos, mas os ratos prevaleceram. Agora, mencionando os avanços no controle de natalidade de roedores e no armazenamento de lixo, o município quer tentar novamente.

Um novo projeto de lei apresentado na quinta-feira poderá exigir que o Departamento de Saúde da cidade implante pastilhas salgadas que esterilizam ratos machos e fêmeas em dois bairros como parte de um projeto-piloto. As pastilhas seriam usadas no que são conhecidas como zonas de mitigação de ratos, cobrindo pelo menos 10 quarteirões da cidade.

Responsável pelo projeto de lei, o vereador de Manhattan Shaun Abreu afirmou que a proposta será mais eficaz do que os esforços anteriores, especialmente quando combinada com a medida mais ampla da cidade para combater os ratos, que envolve colocar o lixo em contêineres e expandir a compostagem.

“Acreditamos que precisamos adotar uma abordagem de choque e pavor para o problema dos ratos, lançando mão de tudo o que temos” explicou.

Há outro benefício em potencial: os contraceptivos provavelmente não prejudicam a vida selvagem, como Flaco, a famosa coruja libertada do Zoológico do Central Park, cuja morte foi atribuída, em parte, ao veneno de rato.

“As aves de rapina não deveriam ter que comer ratos que têm raticida” explicou Abreu.

“Melhor que pizza”

Abreu tem trabalhado com Loretta Mayer, cientista que criou o ContraPest, um contraceptivo para ratos que, segundo as autoridades de trânsito, apresentou resultados promissores quando usado no metrô. A isca contém compostos ativos que têm como alvo a função ovariana em fêmeas e levam à infertilidade em ratos machos, interrompendo a produção de espermatozoides.

Mayer, que agora dirige uma organização sem fins lucrativos dedicada ao controle humano da população animal, disse em uma entrevista que as pastilhas eram cheias de gordura e sal, e são tão deliciosas que os ratos as preferiam em vez de vasculhar o lixo.

“É melhor do que pizza” brincou a cientista.

Ela explicou ainda que o principal desafio seria aumentar a escala de produção para ter pastilhas suficientes para distribuir os contraceptivos de forma mais ampla. O custo, de acordo com Mayer, é baixo, ficando cerca de US$ 5 (R$ 25,43) o quilo.

Outras cidades tentaram usar contraceptivos para ratos, incluindo Boston, Columbus, em Ohio, e Hartford, em Connecticut. Abreu disse que tentativas anteriores na cidade de Nova York não tiveram sucesso porque as autoridades não foram persistentes o suficiente. Ou usaram isca líquida em vez de pastilhas, disse, e não as combinaram com a organização dos contêineres de lixo, o que dá aos ratos menos alternativas alimentícias.

Tentativas anteriores

A grande questão é se a cidade finalmente conseguirá fazer o controle de natalidade de ratos corretamente.

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Em 1967, o governador Nelson Rockefeller anunciou um plano para dar contraceptivos aos ratos dissolvendo uma forma de estrogênio usada em pílulas anticoncepcionais humanas em uma solução de óleo vegetal e mergulhando carne e grãos nela. A Autoridade de Transporte Metropolitano (MTA, na sigla em inglês) tentou resolver o problema há uma década, distribuindo contraceptivos para ratos no metrô. O Bryant Park tentou a mesma coisa, sem sucesso, no ano passado.

Outras táticas foram usadas contra os roedores — veneno, armadilhas, gelo seco, afogamentos macabros visando os chamados reservatórios de ratos, e uma academia de ratos (iniciativa educacional da Secretaria de Saúde de Nova York) para envolver o público nos esforços de erradicação — no que, às vezes, parece a caçada do Coiote contra o Papa-Léguas. De alguma forma, os ratos sempre vencem.

Embora seja difícil fazer estimativas precisas, uma empresa de controle de pragas disse que havia cerca de 3 milhões de ratos na cidade. Joseph J. Lhota, que atuou como “czar dos ratos” da cidade durante o governo do prefeito Rudy Giuliani e opinou que eliminar os ratos é um feito de Sísifo, elogiou o novo projeto de lei, afirmando que os contraceptivos devem ser parte da solução.

— Será que algum dia vamos erradicar os ratos? Acho que não — observou, acrescentando: — Mas você deve fazer tudo o que puder para reduzir o tamanho da população.

Aprovado por grupo de bem-estar animal

O prefeito da cidade de Nova York, Eric Adams, fez da luta contra os ratos uma iniciativa. Ele nomeou sua própria czar dos ratos, Kathleen Corradi, e iniciou um plano ambicioso para retirar os sacos de lixo fétidos das ruas e colocá-lo em contêineres de estilo europeu. Liz Garcia, porta-voz do prefeito, disse em um comunicado na quarta-feira que seu gabinete analisaria a legislação.

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A prefeitura “adotou uma abordagem conjunta” para combater os ratos, disse, e acrescentou:

— Continuaremos trabalhando com todos os nossos parceiros no governo em estratégias de redução de ratos.

O vereador de Manhattan se tornou um evangelista da “revolução do lixo” do prefeito, e seu distrito é onde o projeto-piloto de conteinerização de lixo da cidade está sendo realizado.

Alguns grupos de bem-estar animal apoiam o projeto de lei, argumentando que os anticoncepcionais são uma forma mais humana de lidar com os ratos e ajudarão outros animais em níveis mais elevados da cadeia alimentar.

 

Com informações da Agência O Globo