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Número já é superior ao registrado em anos como 2021, 2020, 2018 e 2017
O Brasil bateu a marca de um milhão de casos de dengue em 2024, mostram números atualizados nesta quinta-feira do Painel de Monitoramento de Arboviroses, do Ministério da Saúde. Ao todo, são 1.017.278 casos e 207 mortes até agora, além de outras 687 em investigação. O total é mais da metade do registrado ao longo de 2023 e acima por completo de 17 anos da série histórica, como 2021, 2020, 2018 e 2017.
A alta de casos neste ano é atípica devido às proporções acima do esperado e a ocorrência mais cedo do que o normal. No início do mês, a secretária de Vigilância em Saúde do ministério, Ethel Maciel, disse que, “em geral, há um crescimento de casos no final de março e começo de abril”, mas que em 2024 “nós começamos a ver o crescimento dos casos já em janeiro”.
Segundo o último informe semanal do Ministério da Saúde sobre dengue, baseado em dados de até 24 de fevereiro, o Brasil registrou nesse início de ano uma alta de 369% nos casos em relação ao mesmo período do ano passado, além de 154% nos diagnósticos graves e de 31% nas mortes. O cenário preocupa já que 2023 foi o segundo pior da série histórica, com 1.658.816 casos, além de ter sido o mais letal, com 1.094 óbitos.
A estimativa da pasta é que o Brasil chegue a inéditas 4,2 milhões de infecções até o fim do ano, o que ultrapassaria em 149% o pior ano registrado até agora, 2015, quando foram 1.688.688 de casos da arbovirose.
O cenário já levou sete unidades federativas (AC, DF, GO, MG, ES, RJ e SC) a declararem estado de emergência em saúde, além de capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis. A medida vale por seis meses, mas pode ser prorrogada.
O status de emergência, segundo definição do Ministério da Saúde, é “o emprego urgente de medidas de prevenção, de controle e de contenção de riscos, de danos e de agravos à saúde pública em situações que podem ser epidemiológicas (surtos e epidemias), de desastres, ou de desassistência à população”.
A medida é considerada especialmente por diminuir burocracias e permitir uma maior agilidade nas ações voltadas a conter os casos da doença. Recentemente, por exemplo, o Ministério Saúde anunciou que destinará um montante extra de R$1,5 bilhão às localidades em situação de emergência para o combate à arbovirose.
Em alguns locais, o total de casos neste ano, em menos de dois meses, já é superior ao registrado em todo o ano passado. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, foram 82.420 diagnósticos até a última quarta-feira, de acordo com o sistema Monitora RJ, do governo estadual, o que representa um aumento de 60% em relação aos 51.436 contabilizados ao longo de 2023.
O mesmo ocorre na capital paulista, onde já são 16.001 casos, 11% a mais que os 14.383 registrados ao longo do ano passado, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, atualizados na última terça-feira.
Campanha inédita de vacinação
A alta ocorre em meio ao início da campanha inédita de vacinação contra a dengue no Brasil. A oferta neste ano, porém, será limitada devido ao baixo quantitativo de doses que a farmacêutica Takeda consegue fornecer, o que deve restringir o impacto da estratégia nos casos da doença.
O Ministério da Saúde tem acordado a entrega de 6,5 milhões de doses em 2024, número suficiente para proteger 3,2 milhões de brasileiros. Por isso, o público-alvo da vacinação foi restrito a apenas jovens de 10 a 14 anos de 521 municípios selecionados pelo Ministério da Saúde.
A faixa etária foi escolhida por ser a que concentra o maior número de hospitalizações por dengue depois dos idosos, que não podem ser incluídos pelo imunizante não ter recebido o aval da Anvisa acima de 60 anos.
Já a delimitação dos municípios foi baseada em três critérios: ter população superior a 100 mil habitantes; ter uma alta transmissão de dengue neste ano e em 2023 e ter maior predominância do sorotipo 2 do vírus, responsável pela maior parte dos casos hoje no Brasil.
Para o ano que vem, está acordado com a farmacêutica o envio de mais 9 milhões de unidades, suficientes para proteger outras 4,5 milhões de pessoas. Além disso, o Ministério já disse que “coordena um esforço nacional para ampliar o acesso a vacinas para dengue”, atuando com Fiocruz e Butantan para viabilizar a produção de imunizantes no país.
No instituto paulista, por exemplo, já há uma vacina, em dose única, na fase final dos testes clínicos e que poderá ser produzida nacionalmente. Segundo dados publicados recentemente, a eficácia da aplicação foi de 79,6% para proteger contra a infecção ao longo de um período de dois anos, semelhante à da Qdenga.
A Qdenga foi aprovada pela Anvisa em março de 2023 para pessoas entre 4 e 60 anos. Nos estudos clínicos, o esquema de duas doses, aplicadas num intervalo de três meses entre elas, demonstrou uma eficácia geral de 80,2% para evitar contaminações, e de 90,4% para prevenir casos graves.
A expectativa do Butantan é submeter o pedido de aprovação para uso à Anvisa no segundo semestre para, se receber o sinal verde, a dose ser disponibilizada a partir de 2025.
Vacina na rede privada
Enquanto a vacinação caminha devagar na rede pública, a Qdenga também pode ser encontrada na rede privada, em laboratórios, clínicas e farmácias, por valores que vão de R$ 350 a R$ 490 a dose, segundo levantamento do Globo. Como o esquema envolve duas aplicações, com um intervalo de três meses entre elas, o preço final fica de R$ 700 a R$ 980.
No entanto, a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVA) destaca que algumas unidades já relatam não ter mais a vacina em estoque. “Algumas clínicas privadas já relataram a falta do imunizante em algumas regiões devido à alta procura”, afirma a entidade em comunicado.
O motivo é a priorização por parte da farmacêutica da campanha no Sistema Único de Saúde (SUS), já que há uma limitação produtiva. O laboratório emitiu um comunicado em que afirma que o fornecimento na rede privada será restringido a apenas o necessário para completar o esquema vacinal daqueles que já receberam a primeira dose.
Com informações da Agência Globo