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“Salários” dos PMs que atuavam protegendo o bicheiro chegavam a R$ 7,6 mil

Segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio à Justiça, o bicheiro Rogério de Andrade chegava a gastar R$ 207.600,00 por mês com 36 seguranças particulares. Os salários variavam entre R$ 5,6 mil e R$ 7,6 mil, valores compatíveis com a remuneração de soldado e oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Durante uma ação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, com apoio da Corregedoria-Geral da Polícia Militar, Corregedoria da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro (Seap) e da Polinter, na manhã desta quarta-feira (20), 17 policiais foram presos acusados de trabalharem na segurança particular do bicheiro. O MP denunciou, ao todo, 31 pessoas da organização criminosa, mas conseguiu na Justiça a expedição de mandados de prisão para 18 policiais militares da ativa, um reformado e um policial penal, além de 50 de busca e apreensão.

O bicheiro não estava entre os alvos. No entanto, a investigação que levou à ação é em decorrência da operação Calígula, deflagrada pelo Gaeco em maio de 2022, quando bingos foram estourados e 30 pessoas foram denunciadas pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Entre os presos na ação estavam os delegados Marcos Cipriano e Adriana Belém. Na casa dela foram encontrados R$ 2 milhões em espécie.

Meses depois da operação, o próprio Rogério e o filho dele, Gustavo Andrade, foram alvo de uma ação da Polícia Federal. Em uma casa do contraventor em Petrópolis, na região Serrana do Rio foi encontrada uma lista de pagamentos de propinas à policiais.

A partir dessa lista de pagamentos, as investigações apontaram para os nomes e atuações dos agora denunciados. Márcio Araújo de Souza, por exemplo, é apontado como chefe geral de segurança da organização criminosa, enquanto Daniel Rodrigues Pinheiro foi identificado como chefe da segurança pessoal de Rogério de Andrade.

Ainda segundo o MP, no celular de denunciados foi possível ter acesso a um grupo de mensagens instantâneas, chamado “vampiros”. Nele, os 14 integrantes faziam parte da equipe que trabalhava no período noturno, que demonstrava uma preocupação de Andrade por ter sempre seguranças por perto. Em 2010, o bicheiro foi alvo de um atentado. Foram colocados explosivos no veículo do contraventor, que escapou com vida, mas perdeu o filho, Diogo, que dirigia o veículo.

Neste grupo de troca de mensagens, os nomes dos seguranças eram expostos e muitos deles enviavam as chaves PIX para receberem o pagamento, descuido que facilitou a identificação dos acusados.

A denúncia enviada à Justiça aponta que, mesmo durante o período em que o bicheiro estava foragido, os policiais eram pagos e realizavam missões, rondas e abordagens para garantir a livre circulação do contraventor. Além disso, os seguranças atuavam em territórios em disputa pelo domínio do bicho, monitoravam veículos que circulavam perto da casa de Andrade e organizava operações forjadas de combate aos jogos de azar, na tentativa de disfarçar a ligação com o bicheiro.

Os policiais estariam, segundo apontou o MP, ligados a diversos crimes atribuídos à organização criminosa, como crimes violentos, contra a administração pública e contra a ordem econômica, tudo inserido no contexto do domínio territorial para a perpetuação da exploração de jogos de azar, sob comando de Andrade, não apenas no Rio de Janeiro, mas em outros Estados da Federação.

Os policiais devem responder por corrupção ativa, extorsão, lesão corporal grave e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

Depois de analisar a denúncia, o juiz Ricardo Robert Fairclough acatou o pedido e deu prazo de 10 dias para que as defesas dos acusados se manifestem por escrito. “Diante do quadro trazido pelo Ministério Público, torna-se incompatível com a atuação policial qualquer tipo de ligação com a organização criminosa em tela. A atuação de cada um dos denunciados está detalhadamente apresentada na peça acusatória e apresenta base fática compatível com o oferecimento da presente denúncia, restando presente a justa causa”, conclui em trecho da decisão, o juiz.

Com informações da CNN