Dirigentes de clubes de futebol colocaram uma ideia fixa na cabeça de que só se ganha títulos se forem realizados altos investimentos em atletas renomados, medalhões, craques. Um número expressivo de cartolas e também de técnicos age dessa forma sem o mínimo critério ou planejamento adequado.

Quem não gostaria de contar com grandes jogadores na equipe, capazes de decidirem um jogo e levarem a torcida ao delírio? Claro, todo torcedor ficaria feliz, com a alma renovada. Porém, tudo deve ser feito com planejamento, dentro da realidade de cada clube, bem calculado, para evitar endividamento sem nenhuma solução no futuro.

Um exemplo prático do mal planejamento é o Flamengo, clube de maior torcida no Brasil, que formou uma grande equipe no ano do seu centenário, em 1995. Romário, Edmundo, Sávio, Branco e tantos outros craques faziam parte do time de galácticos, como se dizia na época. Só amargou fracassos, não ganhou nada e quase foi rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

Mais dois clubes também amargaram a maldição de seu centenário, com a formação de grandes equipes. Tratam-se de Corinthians, em 2010, que tinha no seu elenco os renomados Ronaldo Fenômeno e Roberto Carlos e não ganhou nada; e Palmeiras, em 2014, que viveu um ano de fracassos. São histórias que devem ser esquecidas.

O investimento na base é a melhor saída para os clubes – seja na formação de ótimas equipes ou do lado financeiro. É de lá onde surgem grandes jogadores, que podem dar suporte financeiro dentro ou fora de campo. Agora é preciso investir pesado na estrutura, com bons centros de treinamentos, oferecendo o que há de melhor aos atletas.

Os torcedores precisam entender que jogadores da base são indispensáveis à formação de uma boa equipe, além de garantirem um futuro financeiro promissor. Os dirigentes devem fazer contratações pontuais e mesclar as equipes com os novos valores, visando formar times fortes e competitivos.

Para formar um grande time, é preciso que o clube esteja bem financeiramente e com todas suas dívidas saneadas. O Flamengo tem um bom time e ganha títulos há dois anos, porque o ex-presidente Bandeira de Melo passou toda a sua gestão saneando as finanças e negociando muitas dívidas. A atual diretoria está lucrando agora e investindo por causa dessa ação administrativa.

A base é tudo que um clube precisa, principalmente para quem não vive bem financeiramente. É uma fábrica geradora de talentos, capaz de contribuir para as conquistas tão sonhadas pelos torcedores. Mas a formação desses jovens jogadores é uma caminhada longa, cheia da expectativa e precisa de muita paciência por parte da torcida.

O grande dilema dos clubes brasileiros é segurar os jovens valores nos profissionais, por causa da investida dos gigantes europeus, que se aproveitam da crise financeira que ronda as equipes e compram os atletas a preço de banana. Essa legislação esportiva maldita também contribui para a venda de novos talentos, que vão embora mais cedo e deixam os clubes na saudade após completarem 18 anos. O futebol brasileiro vive esse drama e clama por mudança.