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O que tem em comum Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, Edmar Bacha, ex-presidente do BNDES, e Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda?

Os três estavam na equipe que criou o Plano Real, programa brasileiro lançado em 1994, durante o governo de Itamar Franco, que criou a moeda atual, estabilizou a economia e barrou a hiperinflação, permitindo ao país, enfim, vislumbrar um caminho para o progresso.

Foram eles que, a partir dessa proposta, demonstraram a necessidade de que um país, para ser administrado, tem que ter um governo que gaste menos do que arrecada, de forma responsável.

E, agora nestas eleições, os três também apoiaram a eleição do ex-presidiário Lula.

Pois eles acabam de, também juntos, assinar uma carta chamando a atenção para as graves falas de Lula, sobre economia.

O petista em sua ânsia de querer cumprir suas falsas promessas de campanha, insiste em aprovar uma PEC transitória que permita, como primeiro ato à frente da presidência da República, ‘passar um cheque sem fundo de R$ 200 bilhões’.

Ele também inicia o governo de transição com 10 vezes mais pessoas envolvidas do que o governo de transição de Jair Bolsonaro em 2018, e prevê, com isso, ampliar o número de ministérios para pelo menos 35.

É gente demais, gastança demais e promessa demais…

Mas, não contente, Lula também fala demais.

Como na afirmação feita na semana passada em Brasília e, mais recentemente, em discurso na COP 27, no Egito, de que não pretende respeitar o teto de gastos e no qual mandou ‘às favas’ a responsabilidade fiscal e os investidores.

“Se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Paciência, disse o aloprado.

E eis que a bolsa caiu, tanto na semana passada quanto hoje… assim como os juros futuros explodiram, o dólar e o ‘risco Brasil’ subiram, a confiança se perdeu e os investimentos futuros já começam a procurar a ‘porta da rua’.

Foi a gota d’água para o trio de economistas ‘tucanos’ que juravam que, ao mirar em Lula, acertariam em Geraldo Alckmin!

Se enganaram.

Primeiro, Henrique Meirelles pulou fora, como noticiado na semana passada.

Agora, mais três dos economistas renomados, não só aqui no Brasil como no exterior, enviam a dura missiva que indica que o namoro acabou.

E até o economista preferido de Dilma e Lula, Guido Mantega, acaba de anunciar que abandonou o barco, apresentando alegações nada convincentes.

É o primeiro caso de um governo que sequer assumiu e já vive uma gigantesca crise… daquelas que levam ao impeachment em curtíssimo prazo.

Talvez nem devesse assumir!

Leia a carta na íntegra:

Caro presidente eleito Lula,

Assistimos a sua fala nesta quinta (17) cedo na COP27, no Egito. Acredite que compartilhamos de suas preocupações sociais e civilizatórias, a sua razão de viver. Não dá para conviver com tanta pobreza, desigualdade e fome aqui no Brasil.

O desafio é tomar providências que não criem problemas maiores do que os que queremos resolver.

A alta do dólar e a queda da Bolsa não são produto da ação de um grupo de especuladores mal-intencionados. A responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social, para já ou o quanto antes.

O teto de gastos não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar a área social.

Vejamos por quê.

Uma economia depende de crédito para funcionar. O maior tomador de crédito na maioria dos países é o governo. No Brasil o governo paga taxas de juros altíssimas. Por quê? Porque não é percebido como um bom devedor. Seja pela via de um eventual calote direto, seja através da inflação, como ocorreu recentemente.

O mesmo receio que afeta as taxas de juros afeta também o dólar. Imagino que seja motivo de grande frustração ver isso tudo. Será que o seu histórico de disciplina fiscal basta? A verdade é que os discursos e nomeações recentes e a PEC (proposta de emenda à Constituição) ora em discussão sugerem que não basta. Desculpe-nos a franqueza. Como o senhor sabe, apoiamos a sua eleição e torcemos por um Brasil melhor e mais justo.

É preciso que se entenda que os juros, o dólar e a Bolsa são o produto das ações de todos na economia, dentro e fora do Brasil, sobretudo do próprio governo. Muita gente séria e trabalhadora, presidente.

É preciso que não nos esqueçamos que dólar alto significa certo arrocho salarial, causado pela inflação que vem a reboque. Sabemos disso há décadas. Os sindicatos sabem.

E também não custa lembrar que a Bolsa é hoje uma fonte relevante de capital para investimento real, canal esse que anda entupido.

São todos sintomas da perda de confiança na moeda nacional, cuja manifestação mais extrema é a escalada da inflação. Quando o governo perde o seu crédito, a economia se arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres!

O setor financeiro recebe juros, sim, mas presta serviços e repassa boa parte dos juros para o resto da economia, que lá deposita seus recursos.

O teto, hoje a caminho de passar de furado a buraco aberto, foi uma tentativa de forçar uma organização de prioridades. Por que isso? Porque não dá para fazer tudo ao mesmo tempo sem pressionar os preços e os juros. O mundo aí fora está repleto de exemplos disso.

Então por que falta dinheiro para áreas de crucial impacto social? Porque, implícita ou explicitamente, não se dá prioridade a elas. Essa é a realidade, que precisa ser encarada com transparência e coragem.

O crédito público no Brasil está evaporando. Hora de tomar providências, sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça.

Respeitosamente,

Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan

Com informações do JC Online