Foto: Reprodução/Internet
Por Epitácio Dantas
Véspera de Natal de 1947, chega Chico, porte tímido e família numerosa.
Cresceu entre pescar no matadouro, peladas na rua do pacote, datilografia da professora Edvirgens na Igreja São José em Cruz das Armas.
Valdemar Dornelas, da Portuguesa, observava os garotos e um jovem de tez branca e refinado trato, Telino, Basa, China, Leoneci e Chico, mesma infância e origem, Estadual de Cruz das Armas ao Liceu paraibano. Herder Henriques pinçou-os ao Botafogo. Leoneci , China e Telino.
Chico “estourou” no União de Costeira , antes do brilhar “alvinegro “. Em 1967, inicia-se uma geração vencedora, arrebatando a hegemonia campinense e carimbando um tricampeonato com muita galhardia.
– O goleiro do Treze bateu o tiro de meta, a bola rebateu em mim e caprichosamente foi parar no fundo da rede. Sorte de campeão !
No emblemático 14 de novembro de 1969, Botafogo e Santos de Pelé protagonizaram a mais emocionante e saudosa noite de toda a história de nosso futebol.
Um dia antes, a Câmara Municipal de João Pessoa em clima de festa e euforia, tornaria Pelé Cidadão Pessoense.
O Aeroporto Castro Pinto ficou pequeno para o Rei. No jogo em si, penal para o Santos. A torcida eufórica exigia e Carlos Alberto o batedor oficial, cedeu a vez a Pelé! Soberano, uma paradinha e saiu o gol 999!
Jair Estêvão o arqueiro santista sentiu-se mal e não tendo reservas, deu o lugar a Pelé frustrando o público presente.
Chico Matemático, após cordial aperto de mão de artilheiros no pontapé inicial em reverenciamento mútuo, vivenciou a maior, mais enfática e mais marcante noite do futebol paraibano. O estádio Olímpico lotado para ver o espetáculo, “Paraíba viu o verdadeiro milésimo gol; erro de contagem consagrou o Maracanã” (Folha). Os deuses do futebol estavam tramando !
Novembro de 1969, Nininho o maior craque de nossa história nos deixaria em um procedimento cirúrgico com o médico Dr Nabor de Assis. Sua última balada …
Chico Matemático marcou o primeiro gol no Estádio Almeidão e teve a honra de distribuir seu repertório de 107 gols em todos os palcos: Graça,Olímpico e José Américo. Dissor, Nininho, Odon , Lelé e Ferreira, grandes parceiros !
Torneio Integração, em Goiás, o time alvinegro foi destaque, a coroação!
Aos vinte e oito anos, no auge e de forma precoce, encerrou a sua meteórica carreira.
Após oito anos de profissionalismo, em 1975 , Chico” Matemático “ abdicou da fama e fechou o livro da sua gloriosa carreira, mesmos com propostas de migração para Recife, São Paulo ou Portugal, optou por cursar a faculdade de engenharia civil na UFPB, foi vereador de 1988 à 1992 pelo PMDB eleito com méritos pela carinhosa torcida do Belo.
O fato é que foi parte dos tempos áureos e idos de nosso futebol em que a majestade era o jogador e não os dirigentes: os súditos, o torcedor e as bolas a razão de ser, formando uma inversão de valores que nos deixam saudades e momentos inesquecíveis de luminosidade e de bela história …
Razão de ser matemático só o saudoso Ivan Tomás decifraria, talvez pela versatilidade, quem sabe pela pontaria ou quiçá pela aguçada inteligência e habilidade de toques e passos sinfônicos. Craques já não brotam, iluminados como Chico, nosso querido matemático, nem pensar!