O jornal Le Parisien desta terça-feira (14) traz uma matéria sobre pessoas que utilizam passaportes sanitários falsos. Com os hospitais próximos da saturação na França, os médicos recebem cada vez mais pacientes em estado grave que afirmam ter recebido as injeções contra Covid-19. Mas com a degradação do estado de saúde e temendo o pior, eles acabam confessando que mentiram.
“Uma atitude que coloca em perigo a saúde dessas pessoas, mas também a de outras”, ressalta o diário.
De acordo com o Seguro de saúde francês e a polícia, 41 mil documentos falsos circulam na França e 339 médicos e 20 centros de vacinação estariam envolvidos na falsificação e na comercialização das atestações.
Desde que entrou em vigor, em setembro deste ano, as notícias de apreensão de falsos passaportes e de profissionais da saúde que vendem o documento se multiplicam. Mas desde a morte de uma paciente de 57 anos em um hospital de Garches, perto de Paris, a questão se transformou em um verdadeiro problema de saúde pública. A paciente havia comprado o passaporte falso de um médico de Nice, no sul da França.
Epidemia e arrependimento
De acordo com a chefe da UTI do hospital Universitário de Nice, Carole Ichai, entrevistada pelo Le Parisien, na região da Côte d’Azur os documentos falsos se transformaram em uma verdadeira “epidemia”.
Segundo a médica, pacientes que mentiram sobre a vacinação representariam atualmente 30% das pessoas internadas em tratamento intensivo. “Neste fim de semana, uma mulher de 60 anos, em estado grave, e seu filho me confessaram que ela tinha um falso certificado”, conta Ichai.
“Quantas dessas pessoas acabam no hospital?”, questiona Le Parisien, “difícil de saber”, mas a maior parte dos médicos entrevistados pelo jornal, já teve de lidar com pelo menos um caso.
Os profissionais de saúde contam que as histórias se repetem. Normalemente começam com uma dúvida do médico que recebe um paciente jovem, em boa saúde e supostamente com as duas doses da vacina. Mas quando o paciente é informado de que seu caso é raro, normalmente reconhece, arrependido, que comprou um passaporte falso e que não está imunizado.
No hospital, o problema não se resume aos pacientes internados, dizem os médicos. Normalmente a família e visitantes do doentes também têm uma atestação falsa.
“Como as famílias são casos contato, lembramos que devem fazer um teste. Aí eles nos dizem: ‘principalemente porque não estamos vacinados'”, conta o médico Nicolas Bruder, de Marselha, no sul da França. “Então eu pergunto: como vocês entraram? E aí eles acabam confessando que usaram um documento falso. Este tipo de situação, cada serviço intesivo já viveu pelo menos três vezes”, lamenta ao Le Parisien.
Entre 200 e 500 euros
Os doentes dizem que pagam entre “€ 200 e € 500” pela atestação, o equivalente a entre R$ 1.300 e R$ 3.200, comprada de intermediários que trabalham em cumplicidade com médicos.
Na França, quem usa ou vende um passaporte falso pode ser condenado a entre três e cinco anos de prisão e pagar entre € 45.000 a € 150.000 de multa.
Mas, além disso, os médicos lembram que a mentira põe os pacientes em perigo, já que as escolhas dos tratamentos, a abordagem e o monitoramento não são as mesmas para um vacinado e um não vacinado.
O passaporte sanitário é obrigatório na França para entrar em hospitais, mas também em museus, teatros, cinemas, restaurantes, bares e lugares fechados em geral.
Com informações da RFI