“Somente uma Europa unida é uma Europa forte”, diz a líder alemã ao receber o prêmio Carlos V. Rei espanhol destaca pragmatismo e confiabilidade da chanceler federal, descrevendo-a como uma “mulher extraordinária”.
Prestes a deixar o cargo após 16 anos, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, recebeu nesta quinta-feira (14/10), na Espanha, o Prêmio Europeu Carlos V, que reconhece pessoas, organizações ou iniciativas que tenham contribuído para fortalecer os valores da União Europeia (UE), assim como o processo de integração do bloco.
O prêmio, concedido anualmente desde 1995 pela Fundação Academia Europeia e Iberoamericana de Yuste, foi entregue pelo rei espanhol, Felipe 6º, que descreveu Merkel como uma “mulher excepcional” e “uma figura política que simboliza e personifica a história europeia dos últimos anos”.
O rei elogiou a líder alemã por ter propiciado “consensos e soluções equilibradas e construtivas” no âmbito da UE. “Seu pragmatismo e confiabilidade têm sido símbolo de solidez na Europa e no mundo. Poucas pessoas podem representar melhor o espírito de unidade da Europa”, afirmou.
O monarca enalteceu Merkel por sua liderança no cenário internacional, pelo legado que deixa, assim como por sua perseverança em todas as crises que enfrentou.
“Esses últimos 16 anos de liderança tão pessoal, tão especial, entrarão para a história com letra maiúscula da EU e da ordem internacional”, disse Felipe 6º.
“Somente uma Europa unida é uma Europa forte”
Em seu discurso de agradecimento, Merkel pediu que os países europeus superem suas diferenças. “Somente uma Europa unida é uma Europa forte”, disse. “Este é o lema da coexistência da UE.”
Em relação a “forças centrífugas” que ameaçam a coesão do bloco, Merkel alertou: “Quando a curto e médio prazo interesses nacionais se sobrepõem ao projeto comum europeu ou à base jurídica, acabaremos tendo problemas.”
Merkel ressaltou que viu como uma “obrigação duradoura, tanto proteger a paz dentro da Europa e nossa ordem liberal, como também defender a paz e os direitos humanos em nossos vizinhos e no mundo”.
Especialmente no contexto de crises, a UE precisa estar em condições de tomar e implementar decisões comuns mais rapidamente do que ocorreu no passado, afirmou a chanceler federal, que permanece no cargo até que um novo governo seja formado após as eleições gerais do mês passado.
Merkel também falou sobre o combate às mudanças climáticas, prevendo que implementar o chamado Acordo Verde, fechado em dezembro passado, exigirá um “trabalho muito duro”. O pacto estabelece um plano para reduzir as emissões em 55% ao longo desta década e atingir a neutralidade de carbono no bloco até 2050.
“Eu não estarei mais presente, mas vou observar de perto quão longe vai a capacidade de comprometer-se”, afirmou diante da plateia no Monastério de Yuste, em Cáceres, que contou também com a presença do chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez.
“As pessoas falam com frequência demais sobre os custos da proteção ambiental e muito pouco sobre os custos de falhar na proteção climática”, disse, fazendo referência às enchentes catastróficas que atingiram a Alemanha em julho.
Ela pediu que sejam colocadas em foco “novas oportunidades de mercado, novas tecnologias e novas oportunidades de trabalho” decorrentes da transição energética.
Terceira mulher premiada
Esta foi a segunda vez que o Prêmio Carlos V foi entregue a um chanceler federal alemão, depois de Helmut Kohl, homenageado em 2006.
Merkel é a terceira mulher a receber a honraria, após a primeira presidente do Parlamento Europeu, Simone Veil, em 2008, e a idealizadora do programa Erasmus de intercâmbio entre universidade europeias, Sofia Corradi, em 2016.
Figuram também na lista de agraciados com o prêmio o ex-líder da União Soviética Mikhail Gorbatchev e Jacques Delors, presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995 e que foi o primeiro a receber a homenagem.
O prêmio costuma ser entregue em 9 de maio, o Dia da Europa, mas neste ano a cerimônia foi postergada devido à pandemia de covid-19.
Com informações da AFP