O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou expulsar embaixadores de 10 países, incluindo Alemanha, Estados Unidos e França, depois que eles fizeram um apelo pela libertação do opositor e filantropo Osman Kavala.

“Eu disse ao nosso ministro das Relações Exteriores que não podemos nos dar ao luxo de hospedá-los em nosso país”, afirmou Erdogan, conforme declarações publicadas nesta quinta-feira (21) por vários meios de comunicação turcos.

Em uma rara declaração conjunta divulgada na noite de segunda-feira (18), os embaixadores de Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Nova Zelândia, Noruega, Holanda e Suécia pediram uma “resolução justa e rápida do caso” Osman Kavala, um editor e filantropo turco considerado inimigo do governo. Ele está detido há quatro anos sem julgamento.

“Por acaso é trabalho de vocês ensinar lições à Turquia? Quem são vocês?”, reagiu Erdogan, ressaltando que a Justiça de seu país é “independente”.

Na terça-feira (19), um dia depois de terem divulgado seu comunicado, os embaixadores destes 10 países foram convocados pelo chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, que considerou “inaceitável” seu apelo a favor de Osman Kavala.

Os diplomatas consideraram que “a demora persistente em seu processo (…) lança uma sombra sobre o respeito pela democracia, pelo Estado de direito e pela transparência do sistema judicial turco”.

Rico empresário nascido em Paris e figura de grande destaque na sociedade civil turca, Osman Kavala, de 64 anos, é acusado desde 2013 pelo governo Erdogan de tentar desestabilizar a Turquia.

– ‘Manter a ficção de uma trama’ –

Em dezembro de 2019, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) ordenou sua “libertação imediata”, sem sucesso.

No início de outubro, um tribunal de Istambul ordenou que a detenção de Kavala fosse prolongada, alegando que “faltavam elementos novos para pô-lo em liberdade”.

Kavala está na mira das autoridades por ter apoiado as manifestações contra Erdogan que tomaram as ruas, em 2013, quando o atual presidente era primeiro-ministro. Depois, foi acusado de tentativa de golpe de Estado e de espionagem, o que sempre negou.

Se for considerado culpado, o empresário pode ser condenado à prisão perpétua. Estará de novo diante de um juiz em 26 de novembro.

Em entrevista à AFP, na semana passada, Osman Kavala considerou que, com sua prisão, o governo de Recep Tayyip Erdogan poderá justificar suas “teses de conspiração”.

“Para mim, o verdadeiro motivo da minha prolongada detenção responde à necessidade do governo de manter a ficção de um complô”, declarou de sua cela, por meio de seu advogado.

“Como sou acusado de ter participado de um complô organizado por potências estrangeiras, me libertar enfraqueceria essa ficção. E isso não é, certamente, o que o governo deseja”, explicou.

Em setembro, o Conselho da Europa, do qual a Turquia é membro, ameaçou adotar sanções contra o governo turco por este caso. Essas sanções poderiam ser adotadas na próxima reunião do Conselho, que acontece entre 30 de novembro e 2 de dezembro, se a Justiça turca não libertar o empresário antes.

Com informações da AFP