O Talibã anunciou nesta terça-feira, 7, a formação de um novo governo interino para o Afeganistão. A administração será liderada por Muhammad Hassan Akhund como primeiro-ministro e Abdul Ghani Baradar como vice-primeiro ministro.
Hassan Akhund chefiou o governo dos talibãs durante os últimos anos do seu anterior regime (1996-2001), enquanto Baradar, que é um dos fundadores da organização, liderou as negociações com os Estados Unidos e assinou o acordo para a retirada das tropas americanas durante o governo de Donald Trump.
Segundo o grupo, uma liderança permanente será nomeada em breve. O anúncio ocorreu depois que os extremistas atiraram para o ar para dispersar um grupo de manifestantes, naquele que foi um dos maiores atos contra o governo.
O protesto acontece um dia depois dos fundamentalistas anunciarem a conquista do último reduto rebelde, a província de Panjshir, no norte afegão. Ainda que pequenas manifestações ocorram no país, principalmente de mulheres, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou que novas ações não serão permitidas.
Quase 70 pessoas, a maioria mulheres, protestaram diante da embaixada do Paquistão em Cabul. Elas levavam cartazes e gritavam contra o país vizinho, acusado de financiar o Talibã e influenciar a política afegã.
De acordo com uma ativista que estava presente, os talibãs atiraram também em direção ao grupo e impediram que jornalistas pudessem filmar o comício. Segundo ela, o ato era contra a interferência estrangeira no Afeganistão, principalmente por parte do Paquistão, que é um grande apoiador do novo regime.
Um cinegrafista da rede de notícias Tolo News foi brevemente detido e teve vídeos do protesto excluídos de seu celular. O mesmo aconteceu com uma série de manifestantes, contrariando a fala do Talibã de que a liberdade de expressão seria respeitada.
Segundo Mujahid, os atos estão proibidos de maneira provisória para que as pessoas não pudessem “usar a situação atual para causar problemas”. Ele acrescentou ainda que muitos de seus soldados ainda não têm experiência para lidar com manifestações, o que pode ser um problema no momento.
A nova geração de mulheres que se levantam contra os extremistas viveram em um Afeganistão bem diferente do presenciado pelas suas mães, quando o Talibã governou entre 1996 e 2001. Embora exista uma fala de que as liberdades das mulheres serão respeitadas, o clima que paira sobre o país ainda é repleto de ceticismo.
Nesta semana, as aulas nas universidades foram retomadas pela primeira vez desde a ruptura do governo anterior. Em algumas instituições, as salas foram divididas com cortinas ou tábuas, segregando mulheres e homens.
Os governos estrangeiros, principalmente do Ocidente, estão observando de perto os rumos que os extremistas irão tomar, sinalizando que a ajuda financeira dependerá do respeito aos direitos humanos básicos.
Em entrevista recente, Mujahid disse que as mulheres serão eventualmente convidadas a retornar aos seus empregos, depois de ter instruído que as mesmas ficassem em casa devido à falta de treinamento de seus soldados. Além disso, foi prometido a formação de um novo governo “inclusivo”, embora ele não tenha dado detalhes de como isso será feito.
Ahmad Massoud, líder das forças de resistência na região de Panjshir, pediu para que a população lute contra um Talibã que se tornou “mais brutal, radicalizado, odioso e fanático”. Ainda que a região tenha caído para os militantes, um oficial afirmou que os combatentes conseguiram se refugiar nas montanhas próximas à província.
A situação humanitária no Afeganistão vai de mal a pior. Segundo um funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS), inúmeros hospitais correm o risco de fechar, uma vez que o Talibã proibiu a negociação com doadores ocidentais que as financiam.
Em meio à incerteza, autoridades americanas procuram vias para retirar seus cidadãos do país. De acordo com o Secretário de Estado, Antony Blinken, inúmeros esforços estão sendo feitos para garantir que voos fretados possam sair do Afeganistão com segurança. Cerca de 100 americanos ainda permanecem em território afegão.
Blinken disse ainda que o Talibã concordou que qualquer pessoa que tenha documentação válida pode deixar o país e que não existe qualquer situação onde alguém esteja sendo feito de refém.
“É meu entendimento que o Taleban não negou saída a ninguém portador de um documento válido, mas eles disseram que aqueles sem documentos válidos, neste momento, não podem sair”, disse Blinken.
Com informações da Veja.com