No curto prazo, os líderes chineses têm um incentivo para manter rígidos controles pelo menos até o próximo ano: não querem nenhum grande surto que atrapalhe a Olimpíada de Inverno ou o Congresso do Partido que ocorre uma vez a cada cinco anos, no qual o presidente Xi Jinping deverá obter um terceiro mandato. O problema, no entanto, são os custos econômicos e políticos crescentes em manter essa política indefinidamente, especialmente porque o coronavírus gera variantes que podem escapar das restrições com mais facilidade.
“A China terá que mudar sua estratégia de contenção, mais cedo ou mais tarde. Você pode ser ‘Covid Zero’ por um tempo, mas não pode ser ‘Covid Zero’ para sempre, porque o vírus aparece antes que você perceba”, disse Chen Zhengming, professor de epidemiologia da Universidade de Oxford. “Minha preocupação é que eles não busquem ativamente uma mudança de tática, pois a Covid Zero se tornou uma mentalidade arraigada. Especialmente quando você responsabiliza autoridades, ninguém se atreve a pegar leve com o surto.”
No momento, é quase um tabu na China sugerir uma abordagem diferente. Em um comentário publicado no fim de semana por um aplicativo de notícias de saúde do jornal oficial People’s Daily, o ex-ministro da Saúde Gao Qiang pediu medidas mais fortes para manter o coronavírus fora da China e atacou os EUA, Reino Unido e outros países por aliviarem as restrições muito cedo.
“A dependência exclusiva da vacinação e busca da chamada ‘coexistência com o vírus’ levaram ao ressurgimento do vírus”, escreveu. “Este é um erro na tomada de decisões sobre a Covid, causado pelas deficiências em seu mecanismo político e o resultado de defender o individualismo.”
Depois que o artigo de Gao foi publicado, usuários das redes sociais chinesas começaram a atacar Zhang Wenhong, diretor de doenças infecciosas do Hospital Shanghai Huashan, que havia anteriormente pedido às autoridades chinesas para encontrar “a sabedoria de coexistir com o vírus a longo prazo”.
A China não é a única que buscou extinguir o vírus, pois Singapura, Austrália e Nova Zelândia também seguiram a chamada estratégia Covid Zero. Mas, à medida que o resto do mundo se abre e a perspectiva de eliminação global diminui, outros começam a se afastar de um manual que evitou mortes, mas os deixou isolados e focados na contagem de casos.
O compromisso da China com a Covid Zero tem implicações para investidores, muitos dos quais já foram impactados pela repressão de Xi às empresas de tecnologia que, a certa altura, eliminou US$ 1,5 trilhão das bolsas chinesas. Os riscos econômicos aumentam no segundo semestre com a desaceleração do crescimento, enquanto as pressões inflacionárias também sobem. Goldman Sachs e Nomura rebaixaram as previsões de expansão do PIB da China neste mês devido às medidas do governo de Pequim para frear o coronavírus.
Com informações do bloomberg.com