O assassinato foi tido como uma demonstração de força do Taleban para deixar claro que podem atacar a capital do país quando quiserem. O grupo já havia prometido que agiria contra funcionários do governo, como represália contra os bombardeios aéreos do exército afegão, que tem tentado conter o avanço do Taleban sobre centros urbanos importantes pelo país.

Na terça (3), por exemplo, o Taleban reivindicou o ataque à residência do ministro da Defesa, o general Bismillah Mohammadi, em Cabul, que deixou oito mortos -o ministro sobreviveu. Dois dias depois, o chefe do distrito de Sayed Abad foi assassinado na capital.

O governo lamentou nesta sexta a morte de Menapal. “Era um homem jovem que se manteve firme como uma montanha contra a propaganda do inimigo, e que sempre foi um grande apoiador do governo”, disse um porta-voz do Ministério do Interior. “Infelizmente os brutais e selvagens terroristas cometeram um novo ato covarde e mataram um patriota afegão”, completou. Jornalista, ele havia sido porta-voz do presidente.

Um porta-voz do Taleban afirmou que Menapal foi “morto em um ataque especial feito pelos mujaheedin [termo usado para se referir às guerrilhas islâmicas] e foi punido por suas ações.”

Em rede social, um diplomata americano no país, Ross Wilson, chamou Menapal de amigo e afirmou que “esses assassinatos são uma afronta aos direitos humanos e à liberdade de expressão no Afeganistão.

O episódio foi o último de uma série de assassinatos cometidos pelo grupo fundamentalista islâmico para enfraquecer o governo do presidente Ashraf Ghani, que foi eleito democraticamente e tem apoio de países do Ocidente. Dezenas de ativistas, jornalistas, burocratas, juízes e figuras públicas que lutaram para manter o atual regime foram mortos pelo Taleban, em uma tentativa de silenciar vozes dissidentes no país em guerra.

O Taleban tem avançado militarmente para tomar o controle do território afegão desde que os Estados Unidos anunciaram que vão retirar as tropas do país até 31 de agosto, após duas décadas de guerra. A decisão foi criticada pelo governo do país, que culpou os EUA pelo avanço militar inimigo.

Postos chave na fronteira e grandes partes rurais já foram conquistadas, e o grupo tem avançado agora sobre grandes centros urbanos, cercando capitais das províncias do país.

Nesta sexta, dez soldados afegãos e um comandante de uma milícia foram mortos na província de Jowzjan, no norte do país, em um cerco à capital Sheberghan. Nove dos dez distritos da província já são controlados pelo grupo, segundo um político local. Já em Helmand, no sul do país, o grupo ateou fogo a lojas nos confrontos para tomar a capital Lashkar Gah, o que agravou a crise humanitária na região.

Entidades internacionais expressaram preocupação. “Civis se encontram no meio de uma guerra. Eles foram retirados de suas casas e são as primeiras vítimas do conflito”, disse Mike Bonke, o diretor da Action Against Hunger no país. O escritório da ONG em Lashkar Gah foi atingido por bombas na quinta-feira. “Organizações humanitárias como a Action Against Hunger fazem o melhor que podem para apoiar as necessidades do povo, mas precisamos ter garantia da nossa segurança por todos os lados para podermos trabalhar”, disse em comunicado.

Com informações da Folha