O pronunciamento do presidente francês, Emmanuel Macron, na noite de segunda-feira (12), que instituiu a vacina contra a Covid-19 obrigatória para todos os profissionais do setor da saúde, cuidadores de idosos e bombeiros teve efeito imediato. Até o meio-dia desta terça-feira (13), 1,3 milhão de pessoas reservaram horários para se vacinar. Macron também anunciou que o passaporte sanitário será obrigatório, em breve, para todos que desejam manter uma vida social normal.

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Macron fechou o cerco contra aqueles que hesitam em se vacinar contra o coronavírus. Os profissionais de saúde e prestadores de serviços em contato com pessoas vulneráveis terão até 15 de setembro para se imunizar, senão serão proibidos de trabalhar e serão privados de salário.

A partir de 21 de julho e progressivamente, será obrigatório apresentar passaporte sanitário para ter acesso a locais de lazer e de cultura, como cinemas, teatros e museus, que reúnam mais de 50 pessoas. Já em cafés, restaurantes, shopping centers e hospitais, o passaporte sanitário se tornará obrigatório a partir do mês de agosto, quando também passará a haver controle de passageiros para deslocamentos por avião, trem e outros tipos de transporte. A exigência será para todos os adultos e adolescentes a partir de 12 anos de idade.

Na França, o passaporte sanitário é um documento digital ou em papel que atesta que a pessoa realizou um teste de PCR com resultado negativo, está vacinada contra a Covid-19 ou teve a infecção viral recentemente.

Após o veemente pronunciamento do chefe de Estado sobre a necessidade de se proteger contra o vírus, houve uma corrida por horários de vacinação. O site de reservas Doctolib informou que 926 mil franceses marcaram uma consulta para tomar a vacina apenas na noite de segunda-feira. De acordo com a plataforma, 65% das reservas foram feitas por pessoas com idades inferiores a 35 anos, uma procura cinco vezes mais expressiva do que na segunda-feira da semana passada. O motor de busca Vite Ma Dose (Rápido Minha Dose, em tradução livre), que agrega vários sites de agendamento, incluindo o Doctolib, registrou 3,4 milhões de buscas.

Diante do aumento de casos positivos relacionados com a variante Delta, muito mais contagiosa, e o receio de que uma quarta onda da epidemia arruíne os esforços de retomada da economia, o governo francês decidiu endurecer contra os recalcitrantes à vacina.

Este é o “verão da mobilização”, disse Macron, motivando os franceses a procurarem postos de vacinação até mesmo nos locais para onde viajarem de férias e a não interromperem a campanha. “A nação deve uma resposta àqueles que foram mais afetados pela crise. À nossa juventude, que tanto se sacrificou quando ela mesmo não corria perigo. Aos nossos idosos, que mais do que outros tiveram tanto medo por suas vidas”, afirmou o presidente em seu discurso transmitido em cadeia nacional de rádio e TV.

“São centenas de milhares de pessoas que marcaram uma consulta de vacinação esta noite”, disse o ministro da Saúde, Olivier Véran, no Twitter. “Que bom, temos vacinas, postos [de imunização] abertos em todos os lugares e dezenas de milhares de bombeiros e agentes comunitários que estão esperando por você”, escreveu o ministro.

Até domingo (11), 66% dos maiores de 18 anos haviam recebido pelo menos uma dose da vacina e 51% estavam totalmente vacinados, de acordo com dados oficiais.

Flexibilidade para adolescentes

O porta-voz do governo, Gabriel Attal, disse estar “satisfeito em ver que a mensagem do presidente da República foi ouvida”, ainda que nas redes sociais alguns tenham denunciado um atentado às liberdades.

O ministro da Economia, Bruno Le Maire, pediu alguma flexibilidade para os adolescentes que ainda estão pouco vacinados. Na faixa etária de 12 a 18 anos, a vacinação só foi autorizada no final de junho. Muitas famílias, segundo o ministro, não teriam tido tempo suficiente para vacinar os menores, sabendo que a Covid-19 também é menos perigosa para crianças e jovens em boa saúde. 

Além dos adolescentes, os turistas europeus que planejavam vir à França correm o risco de enfrentar dificuldades caso ainda não tenham sido vacinados. Eles podem acessar o território mediante a apresentação de um teste de PCR, mas terão que realizar um exame antes de irem a um restaurante, por exemplo.

A extrema direita e a extrema esquerda denunciaram as medidas.

“As decisões de #Macron cheiram a abuso de poder e discriminação social. Exemplo: o #PassaporteSanitário obrigatório será verificado por policiais não vacinados. Bem-vindo ao absurdo. O país não está protegido nem organizado para a quarta onda”, tuitou o líder da esquerda radical Jean-Luc Melenchon. A líder de extrema direita Marine Le Pen criticou um “sério recuo nas liberdades individuais”. 

Com informações da AFP