O corpo de Marco Maciel foi velado no Salão Negro do Senado e enterrado no Cemitério Campo da Esperança, também em Brasília. Ele deixa a mulher, Anna Maria Maciel, e três filhos.
FHC expressou pesar pela morte do companheiro de chapa. “Se me pedirem uma palavra para caracterizá-lo diria: lealdade”, disse. “Viajei muito, sem preocupações: Marco exercia com competência e discrição as funções que lhe correspondiam. Deixa saudades.”ACM Neto, presidente do DEM, ex-PFL, partido que Maciel ajudou a fundar, enfatizou a postura íntegra do ex-vice-presidente durante sua vida política. “Marco Maciel foi um dos mais importantes quadros do nosso partido. Com sua exemplar atuação na vida pública, escreveu uma história irretocável de dedicação ao nosso País”, afirmou. “Foi uma liderança capaz de motivar políticos de todas as idades.”
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), também ressaltou o perfil conciliador do ex-vice-presidente. Pelas contas do governador, Maciel assumiu a Presidência da República 87 vezes nos oito anos em que foi vice de Fernando Henrique Cardoso. “Considerado um artífice do entendimento, construiu sua trajetória como o homem da conciliação, com contribuições decisivas para o processo histórico brasileiro, ao atuar na linha de frente que resultou no fortalecimento da democracia”, disse em nota enviada à imprensa. “Pai de família e líder de princípios sólidos, fez da política a arte da construção ao abrir infinitas portas para o diálogo e o ordenamento institucional.”
Para Caiado, Maciel era uma unanimidade política. “Era um verdadeiro estadista, cuja biografia deve servir como exemplo para o Brasil, especialmente neste momento tão tristemente marcado pelo acirramento ideológico e pela cega confrontação”, afirmou. O Democratas, continuou o governador, perde um ícone. “Seu legado para os mais jovens, para a sociedade e para o Brasil é imensurável. E eu tive a honra de ser seu amigo, de tê-lo como um grande líder, professor e conselheiro.”
Biografia
Marco Antônio de Oliveira Maciel nasceu em 21 de julho de 1940, no Recife, Pernambuco. Seguindo o exemplo do pai, José do Rego Maciel, o advogado pernambucano enveredou no mundo político, sempre próximo do poder. O autor do livro de notas biográficas Marco Maciel: um artífice do entendimento (Editora Cepe), Angelo Castelo Branco, lembra que ele demonstrou interesse pela política desde pequeno. “Desde criança, acompanhava os movimentos do pai, que era do PSD”, diz o jornalista. “Foi o único dos nove irmãos que seguiu a carreira na política.”
O perfil conciliador formou-se já nos tempos de estudante, conta Castelo Branco. Ele era aluno de Direito da Universidade Federal de Pernambuco e, no início da década de 60, se candidatou à presidência do diretório estudantil do Estado. “Recife sempre foi uma cidade muito polarizada. Sendo de centro-direita, se candidatou contra o grupo de esquerda”, lembra. “Ele resolveu visitar todas as faculdades da cidade para fazer seu discurso, mesmo as que eram reacionárias a ele. Maciel foi à faculdade de Arquitetura, que tinha muitos estudantes de esquerda, para discursar. Acabou sendo eleito.”
No diretório de estudantes, se opôs ao governador de Pernambuco da época, Miguel Arraes (1962-1964). Depois de formado, Maciel se filiou ao partido Arena, que dava sustentação à ditadura militar. Em 1967, na Câmara Estadual de Pernambuco, Maciel foi eleito ao seu primeiro mandato como parlamentar. Quatro anos depois, em 1971, chegou à Câmara Federal, onde atuou por dois mandatos, até 1979. Em 1976, tornou-se presidente da Casa.
À frente do Poder Legislativo, participou de momentos políticos e históricos conturbados para o País, como o período de fechamento do Congresso pelo então presidente Ernesto Geisel, em 1977. O Congresso foi fechado por 14 dias, para passar uma série de medidas destinadas principalmente a manter a maioria governista no Parlamento. Entre as mudanças na Constituição, estava a eleição indireta para governadores e de um terço dos senadores. As modificações ficaram conhecidas como o Pacote de Abril e, segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV), marcaram um “grave retrocesso” no lento processo de abertura política.
Castelo Branco relembra que Maciel minimizou o episódio. “Ele reconheceu que o Congresso foi fechado, mas minimizou dizendo que foi apenas por um fim de semana”, diz. “Ele dizia que na política às vezes era necessário dar três passos para trás para depois dar dez para a frente. Maciel viu o episódio como um recuo para depois ter um avanço.”
Depois da mudança na legislação que tornou a eleição para os governos estaduais indireta, Maciel foi indicado pelos presidentes Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo para o Executivo de Pernambuco. Era o período dos chamados “governadores biônicos”.
Angelo Castelo Branco comenta que, apesar do apoio ao regime militar, Maciel não se aproximou dos grupos mais radicais da ditadura. “Ele começou a se chegar para o Palácio do Planalto, quando assumiu o Geisel, que prometeu uma ‘distensão de forma lenta, gradual e segura'”, afirma o jornalista. “Maciel e Petrônio Portela, presidente do Senado, fizeram uma dupla importante no projeto de anisitia política.”
“Ele tinha uma rebeldia silenciosa dentro do regime”, conclui Castelo Branco. “Não podia dizer que fazia parte, se não perdia o acesso.”
O jornalista, que trabalhou como secretário de imprensa de Maciel no governo de Pernambuco, afirma que o ex-vice-presidente tinha amizades mesmo com figuras de diferentes visões políticas, como Oscar Niemeyer. À frente do Executivo estadual, surpreendeu a todos ao participar do lançamento de um livro do líder comunista Paulo Cavalcanti. “Foi em uma livraria que era ponto de encontro da nata da esquerda recifense”, relembra. “Foi uma surpresa para todo mundo ver o governado Maciel na fila para pegar um autógrafo do Paulo Cavalcanti. Foi um momento emblemático, que ele mostrou ser conciliador e querer resgatar o Brasil daquele período nebuloso.”
Já em meados da década de 1980, se associou a Tancredo Neves, Aureliano Chaves e Ulysses Guimarães em prol de um projeto de redemocratização. Em 1984, os quatro assinaram o documento “Compromisso com a Nação”, redigido por Maciel, em que formam a Aliança Democrática. O grupo oficializou a candidatura de Neves à Presidência da República – ele venceu a eleição indireta, mas não chegou a assumir o cargo pois teve um grave problema de saúde e morreu em abril daquele mesmo ano.
Durante o governo do presidente José Sarney, vice de Tancredo que assumiu a Presidência, Maciel chefiou os Ministérios da Educação e a Casa Civil. No Senado, sua primeira passagem se deu entre os anos de 1983 a 1995, momento em que foi líder do governo do presidente Fernando Collor.
No período de maior destaque da sua carreira política, Maciel foi eleito vice-presidente pelo PFL, atual Democratas, por dois mandatos ao lado do presidente Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2003. Marco Maciel teve sua carreira marcada pela discrição e pela habilidade como articulador político. Por conta do seu perfil, FHC o classificava como o “vice dos sonhos”.
Ao fim de sua passagem pela Vice-Presidência, em 2002, Maciel concorreu novamente ao Senado, se elegendo como senador pelo Estado de Pernambuco, posição em que permaneceu até 2011, seu último cargo eletivo.
Literatura
Fora do cenário político, o vice-presidente também atuava na literatura. Em 18 de dezembro de 2003, Marco Maciel foi eleito o oitavo ocupante da Cadeira nº 39 da Academia Brasileira de Letras (ABL), como sucessor do empresário Roberto Marinho. Foi empossado em 3 de maio de 2004.
Em seu discurso de posse, o advogado destacou o que chamou de “ufanismo pernambucano” e agradeceu a oportunidade de se sentar ao lado de outros imortais. “Ao cumprir o rito de entrada, passo a desfrutar da honra de sentar-me entre vós. Esta casa desde seu nascimento mantém-se fiel aos elevados propósitos de guardar a cultura da língua e da literatura nacional, conservar a tradição sem abandonar-se à rotina, viver imersa na história das transformações que se operam no Brasil e no mundo”, discursou o político e escritor autor de oito livros publicados.
Repercussão
O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), divulgou uma nota de pesar pela morte de Maciel. “É com tristeza que recebo a notícia, neste sábado, do falecimento de Marco Maciel, que foi governador de Pernambuco, senador e vice-presidente da República no governo Fernando Henrique Cardoso”, escreveu. Pacheco lembrou que o pernambucano lutava havia sete anos contra o mal de Alzheimer. “Sua partida inflige enorme perda para a política brasileira e a arte da conciliação. Meus sentimentos à sua família, amigos e admiradores.”
Nas redes sociais integrantes do cenário político nacional também lamentaram a morte do pernambucano. “Neste sábado, o Brasil se despede do ex-vice-presidente Marco Maciel. Político com extrema capacidade de negociação e dotado de espírito público, contribuiu para o engrandecimento do Brasil, sempre pautado pela ética e probidade. Meus sentimentos aos familiares e amigos”, escreveu o atual vice-presidente do País, o general Hamilton Mourão, em sua conta no Twitter.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), decretou luto oficial de sete dias em homenagem ao seu antecessor. “Marco Maciel defendeu suas posições com ética e elevado espírito público. Características que também o destacaram na Academia Brasileira de Letras. Presto minha solidariedade à dona Anna Maria Maciel, aos filhos e demais parentes e amigos”, afirmou. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), publicou uma mensagem em solidariedade à família destacando o perfil democrático do político. “Lamento o falecimento de Marco Maciel, homem de espírito público, aberto ao diálogo, um democrata. Meus sentimentos aos familiares e amigos”, declarou Lira.
Veja as manifestações de políticos nas redes sociais
ACM Neto, presidente nacional do Democratas
João Doria, governador de São Paulo
Paulo Câmara, governador de Pernambuco
Ronaldo Caiado, governador de Goiás
Helder Barbalho, governador do Pará
Ciro Gomes, ex-ministro
Eduardo Paes, prefeito do Rio
Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB
Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania
Baleia Rossi, presidente nacional do MDB
Rodrigo Maia, deputado federal (DEM-RJ)
Ciro Nogueira, presidente nacional do Progressistas
Luciano Huck, apresentador