As eleições do Peru não terão um vencedor claro até o último minuto. A disputa é máxima. E a vitória será ganha voto a voto. Com 92% dos votos apurados, a conservadora Keiko Fujimori mantém 50,5% dos votos contra 49,5% do esquerdista Pedro Castillo, uma distância que diminui à medida que a contagem avança. O órgão eleitoral havia alertado, com 40% dos votos apurados, que “o voto rural e o voto na selva” são os últimos a se refletir nos resultados. Esses são, justamente, os feudos favoráveis ao professor Castillo. As duas pesquisas divulgadas neste domingo, após o encerramento das urnas, mostraram empate técnico. Fujimori obteve uma ligeira vantagem em uma pesquisa de boca de urna (50,3% contra 49,7%), Castillo venceu por pouco na contagem rápida (50,2% contra 48,8%) publicada horas depois.Fujimori recebeu o resultado das pesquisas realizadas em Lima, na capital. Pedro Castillo em Tacabamba, nas montanhas, no mundo rural. Dois lugares diferentes para observar o país. Algo que tem sido percebido nos resultados das regiões, segundo as pesquisas. Nos lugares onde um ou outro ganhou, eles o fizeram facilmente. Em alguns casos, chegando a 90% dos votos.A primeira pesquisa que deu a pequena diferença a favor da candidata de direita tem margem de erro de 3% e foi elaborada com entrevistas com 30.000 eleitores. Na segunda, a contagem rápida, sua margem de erro é menor, 1%, porque é feita a partir de urnas selecionadas de forma a obter uma representatividade mais fiel ao eleitorado real. Embora as vantagens sejam muito estreitas e a contagem oficial possa se arrastar por dias, os dois candidatos comemoraram com euforia quando as urnas os mostraram vencedores por apenas alguns décimos.

Os Fujimori se abraçaram ao saber do resultado. “Estamos felizes, mas na hora de olhar a vantagem é fundamental manter a prudência. E digo isso para todos os peruanos “, disse a candidata. E depois usou o mesmo tom de união das últimas semanas, com o qual atraiu um bom número de anti-fujimoristas: “O que se deve buscar aqui é a unidade de todos os peruanos. De agora em diante, invoco prudência, calma e paz. Aos que votaram e não votaram em nós.“

Esse primeiro flash de resultados inquietou Castillo, que publicou uma carta dirigida à autoridade eleitoral na qual exigia a revisão de todas as urnas. De um lado para o outro, ao longo do dia, indicava que poderia haver um golpe. “Convido o povo peruano de todos os cantos do país a ir às ruas em paz para estar vigilante na defesa da democracia. #ADefenderElVoto “, escreveu o professor em um tweet. Essa primeira pesquisa, embora sugerisse um empate técnico, deixou seus seguidores desanimados. A segunda os encheu de alegria. Na Praça de Tacabamba, de onde o candidato seguia o dia, as pessoas começaram a gritar “Sim, podemos!”.

Em Lima, os apoiadores de ambos foram às ruas. Eles se encontraram na Plaza Bolognesi, um local próximo aos comitês dos dois candidatos, e houve pequenos incidentes. A polícia tentou evitar os confrontos e pediu para que voltassem para casa por volta de meia-noite. O toque de recolher, marcado para às 23h, não foi respeitado.

A campanha dividiu o país em duas vertentes. A tensão foi máxima. Castillo, vencedor do primeiro turno (com 2,7 milhões de votos, 19%), liderou as pesquisas nos primeiros 15 dias, mas Fujimori voltou na última reta. Costuma-se dizer que no Peru o favorito nunca vence. A filha de Alberto Fujimori (1,9 milhão de votos no primeiro turno, 13%), autocrata que governou o país entre 1992 e 2000, ficou bastante em evidência desde que conseguiu passar para o segundo turno. A qualquer momento em que a televisão era ligada, aparecia na tela vestida com a camisa do time peruano, seu uniforme de campanha. Painéis em todo o país lançaram mensagens a seu favor de uma forma indireta (embora muito óbvia) para contornar a lei eleitoral.

Sua principal arma foi estimular o medo da possível chegada de Castillo, que representa, para ela e para a classe dominante peruana que a apoiou sem nuances, uma aventura rumo ao comunismo e ao estatismo econômico. Fujimori, 46, pode ser presidente em um momento em que tem menos capital político. Seus últimos cinco anos de obstrução no Congresso maltrataram sua imagem. A denúncia de um promotor contra ela por lavagem de dinheiro no caso Odebrecht também não ajuda. No entanto, a oposição de grande parte da nação ao que Castillo representa a impulsionou nas pesquisas. Os anti-fujimoristas históricos, como c a apoiaram.

A exposição de Castillo, um sindicalista de esquerda radical, foi muito inferior a da adversária, em parte por opção. O professor de 51 anos mal deu entrevistas. Nos comícios, reclamou que a neutralidade que é assumida por alguns setores da sociedade não estava sendo respeitada. Seu maior esforço na reta final foi para tentar se afastar de Vladimir Cerrón, o presidente do partido Peru Libre, ao qual está vinculado, mais como convidado do que como verdadeiro militante. Cerrón é um esquerdista dogmático e próximo de Cuba e da Venezuela. No último debate, ele insistiu que respeitará a propriedade privada e a economia de mercado, a despeito do que diga seu adversário. Castillo tentou no último minuto atrair um eleitor mais focado e urbano, que pode se sentir tentado a votar em Fujimori como o mal menor.

Com informaççoes do El Pais