Esse primeiro flash de resultados inquietou Castillo, que publicou uma carta dirigida à autoridade eleitoral na qual exigia a revisão de todas as urnas. De um lado para o outro, ao longo do dia, indicava que poderia haver um golpe. “Convido o povo peruano de todos os cantos do país a ir às ruas em paz para estar vigilante na defesa da democracia. #ADefenderElVoto “, escreveu o professor em um tweet. Essa primeira pesquisa, embora sugerisse um empate técnico, deixou seus seguidores desanimados. A segunda os encheu de alegria. Na Praça de Tacabamba, de onde o candidato seguia o dia, as pessoas começaram a gritar “Sim, podemos!”.
Em Lima, os apoiadores de ambos foram às ruas. Eles se encontraram na Plaza Bolognesi, um local próximo aos comitês dos dois candidatos, e houve pequenos incidentes. A polícia tentou evitar os confrontos e pediu para que voltassem para casa por volta de meia-noite. O toque de recolher, marcado para às 23h, não foi respeitado.
A campanha dividiu o país em duas vertentes. A tensão foi máxima. Castillo, vencedor do primeiro turno (com 2,7 milhões de votos, 19%), liderou as pesquisas nos primeiros 15 dias, mas Fujimori voltou na última reta. Costuma-se dizer que no Peru o favorito nunca vence. A filha de Alberto Fujimori (1,9 milhão de votos no primeiro turno, 13%), autocrata que governou o país entre 1992 e 2000, ficou bastante em evidência desde que conseguiu passar para o segundo turno. A qualquer momento em que a televisão era ligada, aparecia na tela vestida com a camisa do time peruano, seu uniforme de campanha. Painéis em todo o país lançaram mensagens a seu favor de uma forma indireta (embora muito óbvia) para contornar a lei eleitoral.
Sua principal arma foi estimular o medo da possível chegada de Castillo, que representa, para ela e para a classe dominante peruana que a apoiou sem nuances, uma aventura rumo ao comunismo e ao estatismo econômico. Fujimori, 46, pode ser presidente em um momento em que tem menos capital político. Seus últimos cinco anos de obstrução no Congresso maltrataram sua imagem. A denúncia de um promotor contra ela por lavagem de dinheiro no caso Odebrecht também não ajuda. No entanto, a oposição de grande parte da nação ao que Castillo representa a impulsionou nas pesquisas. Os anti-fujimoristas históricos, como c a apoiaram.
A exposição de Castillo, um sindicalista de esquerda radical, foi muito inferior a da adversária, em parte por opção. O professor de 51 anos mal deu entrevistas. Nos comícios, reclamou que a neutralidade que é assumida por alguns setores da sociedade não estava sendo respeitada. Seu maior esforço na reta final foi para tentar se afastar de Vladimir Cerrón, o presidente do partido Peru Libre, ao qual está vinculado, mais como convidado do que como verdadeiro militante. Cerrón é um esquerdista dogmático e próximo de Cuba e da Venezuela. No último debate, ele insistiu que respeitará a propriedade privada e a economia de mercado, a despeito do que diga seu adversário. Castillo tentou no último minuto atrair um eleitor mais focado e urbano, que pode se sentir tentado a votar em Fujimori como o mal menor.
Com informaççoes do El Pais