Last updated on junho 5th, 2021 at 07:27 pm
Os casos que envolveram as senadoras Gama e Barros são conhecidos como “manterrupting” e “gaslighting”, expressões usadas para definir atitudes machistas. O PSDB Mulher define “manterrupting” como “quando um homem interrompe constantemente uma mulher, de maneira desnecessária, não permitindo que ela consiga concluir sua frase”.
Para o “mansplanning”, a explicação do partido é “um dos tipos de abuso psicológico que leva a mulher a achar que enlouqueceu ou está equivocada sobre um assunto, sendo que está originalmente certa. É um jeito de fazer a mulher duvidar do seu senso de percepção, raciocínio, memórias e sanidade”.
No início dos trabalhos da CPI, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) disse que as mulheres não queriam participar: “Acho que as mulheres já foram mais respeitadas e indignadas. Estão fora da CPI e não fazem nem questão de estar nela”. Ouviu como resposta da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) que ela não aceitava ironias.
As senadoras dizem que ficaram de fora da comissão porque a CPI acabou sendo instalada a toque de caixa, após decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), em resposta a um mandado de segurança dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO). A bancada feminina pediu para ter o direito de uma representante fazer perguntas após os titulares e os suplentes. O presidente Omar Aziz (PSD-AM) concordou.
“Sou líder do meu bloco. Indiquei o Randolfe [Rodrigues, Rede-AP] porque ele é o autor do pedido de CPI. E o suplente é o autor do mandado de segurança, Alessandro Vieira (Cidadania-SE). No nosso caso, na conversa de bloco, não tinha como eu deixar os dois fora da CPI”, diz Eliziane Gama.
A senadora Soraya Thornicke (PSL-MS) diz que foi tudo muito rápido. “Quando o STF decidiu, percebemos que estava tudo mais ou menos formado”, diz ela. E completa: “Proporcionalmente a nossa participação em termos de bancada tem sido muito ativa em relação ao número de homens”, diz Thornicke.
Para Eliziane Gama, falta um olhar mais igualitário em relação à participação feminina no Congresso Nacional. “A falta de uma mulher em uma comissão com esse nível de importância é ruim para o Congresso Nacional e para a democracia, para a batalha histórica das mulheres na luta por espaço de poder. O que está acontecendo hoje na CPI é o reflexo da política brasileira. A gente é minoritária.”
A pequena participação feminina na política dificulta a ascensão das mulheres mesmo dentro dos partidos. “Os presidentes das legendas são quase todos homens”, diz a senadora Zenaide Maia (Pros-RN). Ela afirma que nem tentou uma vaga na CPI porque está em seu primeiro mandato na Casa. “Queria observar como funciona”, diz ela, que participa remotamente das sessões.
Parlamentares justificam que a CPI, devido à importância, precisava de uma composição com políticos experientes, que soubessem lidar com pressão e com profundo conhecimento do regimento da Casa, como Renan Calheiros (MDB-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI). As senadoras acham que chegou a hora de romper esses paradigmas.
Com informações da Veja.com