(Bloomberg) — Os Estados Unidos estão entre os maiores produtores de soja do mundo, mas a oleaginosa está tão escassa e tão cara no mercado americano que agora os clientes recorrem a suprimentos do rival Brasil.
Empresas como a gigante de frango Perdue Farms compraram o maior volume de soja brasileira desde 2014, quando as fortes vendas para a China obrigaram os EUA a aumentar as importações. O Brasil também vendeu uma grande quantidade da oleaginosa para o México, que normalmente compra soja do seu vizinho na América do Norte.

Os preços da soja nos EUA atingiram o maior nível em oito anos, e agora os grãos são os mais caros do mundo. Com a colheita do Brasil atrasada no início do ano, a China tem comprado soja dos EUA da mesma forma que grande parte do mundo, que reemerge da pandemia, o que aumenta a demanda por óleo de cozinha em meio à reabertura dos restaurantes. A demanda da indústria por diesel renovável nos EUA também ajudará a manter os estoques próximos ao nível mais baixo desde a temporada 2013-14.

“Nos Estados Unidos, ficamos praticamente sem nada em termos de oferta de milho e soja”, disse Dan Basse, presidente da consultoria AgResource, em Chicago. “Somos os mais caros do mundo” e os clientes recorrem à América do Sul para atender à demanda, disse.

A oferta no Brasil, que encerrou a colheita no mês passado, é relativamente abundante. O país ainda não reabriu por completo na pandemia, e os chineses tiveram que comprar dos EUA no início do ano para fechar a lacuna quando seus embarques do Brasil atrasaram.

O Brasil tem programada a exportação de 150 mil a 180 mil toneladas de soja para o mercado americano neste ano, enquanto processadores de aves e gado no sudeste dos EUA aproveitam os preços mais baixos do maior exportador mundial, segundo dados compilados pela Bloomberg. O México também comprou mais de 700 mil toneladas e está perto de ultrapassar o recorde do ano passado, mostram os dados.

Agricultores nos EUA planejam expandir a área plantada com soja. Ainda assim, a demanda está tão alta que, após a colheita deste ano, os estoques ficarão apenas um pouco acima do que na atual temporada, que termina em 30 de agosto.O Departamento de Agricultura dos EUA estima os estoques finais de 2020-21 em 120 milhões de bushels, o que seria o menor nível desde 2013-14, quando as lavouras foram afetadas pela seca. A AgResource prevê estoques finais bem menores, de 55 milhões.“Simplesmente, não é o suficiente”, disse Scott Irwin, professor da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, sobre a área plantada de soja.A escassez já se reflete em Chicago. A soja para entrega em julho mostra prêmio para suprimentos com entrega em data futura. No Brasil, a soja custa US$ 40 por tonelada a menos do que carregamentos dos Estados Unidos, de acordo com dados do Commodity3.

“E a situação não melhora com a nova posição da safra”, disse Basse. “Os prêmios dos futuros de julho em relação a dezembro permanecerão.”

Com informações Bloomberg