No ano passado, o Brasil conseguiu equilibrar sua balança comercial sobretudo graças às exportações de bens agrícolas, que atingiram o montante de cerca de 100 bilhões de dólares. Especialistas esperam outro aumento neste ano. Sem o agronegócio, a crise econômica do Brasil seria muito mais grave.
O Brasil alcançou esta posição de liderança principalmente por meio de sua própria pesquisa e de tecnologia autodesenvolvida. Isso se deve a institutos como a Embrapa, que é líder mundial em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de ponta para a agricultura nos trópicos e subtrópicos.
No entanto, os agricultores brasileiros também devastaram floresta tropical e Cerrado para plantar soja e abrir espaço para o gado.
E é justamente por esta razão que a continuação da impressionante história de sucesso da agricultura brasileira no mercado mundial está ameaçada. As influentes associações agrícolas parecem ignorar o cenário ameaçador que está atualmente se formando contra o Brasil no mundo inteiro.
Isso vale sobretudo num momento em que se debate a mudança climática e a proteção das florestas tropicais. Durante as discussões das últimas semanas sobre como o Brasil deveria se posicionar sobre estas questões, quase nada foi ouvido das associações agrícolas.
Pelo contrário: o governo e o Congresso querem agora aprovar uma lei que deve legalizar retroativamente a tomada de propriedade na Amazônia. O principal objetivo é legalizar as ocupações ilegais dos últimos anos por parte dos grandes proprietários de terras na região.
Em carta aberta ao Legislativo, 40 redes varejistas europeias advertiram que não comprarão mais produtos do Brasil se as operações de corte e queima não forem reduzidas. A carta é assinada por marcas como Aldi, Lidl, Metro, Migros, Sainsbury e Tesco.
Há muito tempo existe uma feroz guerra de trincheiras em associações agrícolas e grupos lobistas no Brasil. A linha de fronteira passa pela chamada “Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura”, que vem tentando unir agro e meio ambiente desde a cúpula climática de 2015. Do outro lado, estão as associações tradicionais de agricultores, que consideram isso supérfluo ou sem sentido. Atualmente, os agricultores conservadores estão dando os primeiros passos tanto no Congresso quanto no governo.
A médio prazo, isso se tornará um problema para o agronegócio brasileiro: os concorrentes no mercado mundial estão só esperando que o setor agrícola brasileiro abra seus flancos para que possam escantear os concorrentes indesejáveis da América do Sul ou exigir preços mais baixos.
E até agora, a floresta tropical em chamas é só o argumento mais forte para desacelerar as exportações agrícolas brasileiras. Há também outros pontos-chave: a abertura de reservas indígenas a agricultores, por exemplo, ou as condições de trabalho análogas à escravidão nas fazendas, que são cada vez mais controladas de forma laxista pelas autoridades.
Atualmente, os agricultores brasileiros estão oferecendo a seus concorrentes no mercado agrícola mundial os argumentos em uma bandeja de prata. É como se eles não estivessem percebendo os sinais dos tempos.
Com informações do DW