Em 31 de março, o ministro informou que o Brasil deve receber 25,5 milhões de doses das vacinas contra a covid-19 em abril. O número representa redução de 46% em relação ao cronograma previamente apresentado para o mês.Queiroga disse que espera que a situação melhore após os Estados Unidos terminarem a sua campanha de imunização. O presidente norte-americano, Joe Biden, já anunciou que toda a população adulta do país poderá começar a ser imunizada em 19 de abril.

A partir do 2º semestre, conseguiremos ter mais doses disponíveis. O maior país a vacinar sua população é os Estados Unidos. Depois que conseguirem vacinar a população deles, vamos ter mais doses, é a nossa expectativa“, disse o ministro da Saúde.

Queiroga afirmou que seu principal objetivo é a vacinação, mas que no momento existe um “problema mundial de carência de vacinas“. De acordo com ele, o governo está negociando com laboratórios no momento, mas ainda encontra dificuldades.

É uma luta diária. Temos uma estimativa de doses a serem aplicadas que depende da produção, da indústria, das entregas, da importação de doses prontas“, disse.

O ministro evitou responder se o Brasil poderia ter evitado a falta de doses se tivesse fechado acordos em 2020. Queiroga afirmou que “ninguém falava nada da Pfizer” em maio do ano passado, por isso o governo fechou acordo com a AstraZeneca.

Queiroga também disse que não quer estabelecer metas específicas para a vacinação porque não sabe quantas doses estarão disponíveis. Antes, o ministro falava em vacinar 1 milhão de pessoas por dia. Agora, disse que, se tivesse doses suficientes, poderia garantir a vacinação de até 2,4 milhões de pessoas por dia.

Como mostrou o Poder360, a média de vacinação diária nos últimos 7 dias foi de 786.937. É a mais alta desde o começo da vacinação no Brasil (iniciada em 17 de janeiro).

Queiroga afirmou ainda que teria mais doses de imunizantes em março e abril se a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já tivesse aprovado o uso emergencial da Covaxin, da Bharat Biotech. A vacina ainda não foi aprovada porque o laboratório não forneceu os dados de segurança e eficácia.

Não posso chegar dando canetada na Anvisa, que é uma agência regulatória. Mas eu teria mais doses em março e abril, como estava no calendário anterior, e a Anvisa não aprovou.

BOLSONARO E CLOROQUINA

Queiroga afirmou que as ações do presidente Jair Bolsonaro que são contrárias às recomendações da pasta não são falhas do presidente, mas dele próprio. “​É meu dever persuadir meu presidente em relação às melhores práticas. Se eu não conseguir, a falha é minha, e não do presidente“, disse.

Afirmou ainda que considera que houve uma mudança do governo sobre o uso de máscaras desde que ele assumiu o ministério. O Palácio do Planalto lançou, na 6ª feira (9.abr), uma campanha nas redes sociais incentivando o uso de máscaras e o distanciamento social.

Considero que devia já ter esse crédito de conseguir que as pessoas tenham maior adesão no uso das máscaras“. Queiroga afirma que o respeito às medidas de prevenção pode aumentar com uma comunicação eficiente do governo.

Outro tema que ele diz exigir uma comunicação “clara” é o dos medicamentos que não têm eficácia contra a covid-19. Ele afirmou que é preciso considerar as evidências, mas que é preciso preservar a autonomia médica.

Poder360 mostrou que o chamado “tratamento precoce” foi adotado como procedimento comum por planos de saúde. Os medicamentos também são defendidos pelo presidente Bolsonaro.

Mas Queiroga afirma que não está no Ministério da Saúde para discutir cloroquina. “Se o que estava sendo feito tivesse surtido o resultado desejado, eu não seria o ministro da Saúde. Já chamei a comunidade científica, os técnicos do ministério, médicos assistenciais, e vamos buscar um caminho de convergência em cima das condutas que comprovadamente funcionam”.

Nesse sentido, o ministro diz que pretende incluir a vacina contra a covid-19 no rol do que deve ser pago pelos planos de saúde. Ele afirmou que se há uma lei para incluir a iniciativa privada na vacinação, é preciso discutir o papel dos planos.

Mas Queiroga afirmou que não vê riscos das empresas competirem com o SUS para a compra de vacinas. “O Brasil, que tem diplomacia forte, já tem dificuldade em conseguir vacinas. Muita gente chega aqui dizendo que vai conseguir. Ótimo, traz, coloca no PNI [Plano Nacional de Imunização] ou vacina seus funcionários. Quero ver para crer“, disse.