“Certamente há potencial para novas variantes surgirem em um país do tamanho da Índia, que podem representar uma ameaça em outro lugar”, disse Ramanan Laxminarayan, fundador do Center for Disease Dynamics, Economics & Policy, com sede em Nova Déli e Washington. “É do interesse do mundo garantir que a Índia saia da pandemia o mais cedo possível, e a vacinação é a única maneira.”
Embora os vírus sofram mutações o tempo todo, nem todas são significativas. Mas algumas novas cepas em outras partes do mundo geram preocupações porque podem ser mais contagiosas. No início do ano, dados mostraram que a vacina da AstraZeneca foi menos eficaz contra uma variante identificada na África do Sul.
A variante da Índia – uma cepa chamada B.1.617 – já soa alarmes. Ela tem duas mutações críticas que a tornaria mais transmissível e resistente à imunidade anterior conseguida, disse Anurag Agrawal, diretor do Instituto de Genômica do Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da Índia, em entrevista à Bloomberg na semana passada.
Rakesh Mishra, diretor do Centro de Biologia Celular e Molecular em Hyderabad, um dos laboratórios que trabalham para sequenciar amostras do coronavírus na Índia, disse que essa variante parece ser mais infecciosa, mas não é provável que cause mais mortes.
Além disso, a vacina da AstraZeneca e outra desenvolvida pela indiana Bharat Biotech International se mostraram eficazes contra essa variante em dados preliminares, disse. O Ministério da Saúde da Índia não confirmou se esta variante é mais transmissível, e um porta-voz do Ministério Federal da Saúde não estava disponível para comentário de imediato.
“Temo que possamos ter mais problemas à frente”, disse William Haseltine, ex-professor da Harvard Medical School e pesquisador de HIV que agora preside o think tank Access Health International. “Já existem variantes de segunda e possivelmente terceira geração da B.1.617 circulando na Índia. Estas podem ser mais perigosas do que a própria variante B.1.617.”
A segunda onda da Índia é certamente mais destrutiva. Hospitais e crematórios estão sob pressão, enquanto indianos imploram nas redes sociais por cilindros de oxigênio e medicamento. Quase 3 mil pessoas morrem todos os dias, e especialistas dizem que esse número provavelmente subestima os dado reais. A taxa de mortes diárias é quase o dobro do nível no auge da primeira onda, o que gera especulações de que a nova variante, ou outras mutações, são as culpadas. O Brasil, que também enfrenta falta de vacinas, sente o impacto de uma cepa de coronavírus considerada responsável por um número de mortos muito maior de Covid.
Mas, apesar de abrigar a maior indústria de vacinas do mundo, a campanha de imunização da Índia desacelerou nas últimas semanas e muitos estados alertam que seus suprimentos estão quase no fim.
A escassez foi parcialmente atribuída a gargalos relacionados a alguns itens-chave, e Adar Poonawalla, CEO do Serum Institute of India, maior produtor de vacinas do país e parceiro de fabricação da AstraZeneca – cada vez mais aponta para os EUA.
Talvez seja necessária uma mudança mais profunda na forma como países desenvolvidos lidam com as vacinas. Mesmo que os EUA enviem todas suas 60 milhões de doses da AstraZeneca para a Índia, o impacto seria limitado em uma população de tal tamanho. Outros países em desenvolvimento ainda não receberam vacinas ou suprimentos consistentes.
Com informações da bloomberg.com