Pelo menos 20 jornalistas foram expulsos ou forçados a deixar a China desde o ano passado, informou o Clube de Correspondentes Estrangeiros do país. A associação diz que Pequim usa táticas de “intimidação” como parte dos esforços para obstruir o trabalho de repórteres estrangeiros.
Um modelo de “assédio e intimidação”
Em um dos últimos casos reportados de intimidação da imprensa estrangeira, a BBC revelou na 4ª feira (31.mar.2021) que um de seus correspondentes na China havia se mudado para Taiwan.
O jornalista John Sudworth disse que ele e sua equipe enfrentaram vigilância, ameaças de processos, obstrução e intimidação onde quer que tentassem filmar.
“Saímos com pressa, seguidos por policiais à paisana até o momento do check-in no aeroporto”, disse Sudworth em entrevista à BBC. “A realidade sombria para os repórteres daqui foi deixada clara até o fim.”
Em resposta à saída de Sudworth, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse que as autoridades não foram avisadas com antecedência.
“Só nos últimos dias, quando nos deparamos com o ofício de renovar o cartão de imprensa de Sudworth, ficamos sabendo que Sudworth saiu sem se despedir. Desde que ele deixou o país, ele não informou, de forma alguma, aos departamentos competentes, nem sobre o motivo [de sua saída]“, disse Hua em entrevista coletiva em Pequim. “Não sabemos por que ele saiu, porque ele não se despediu.”
A saída de Sudworth ocorre depois que Pequim bloqueou a transmissão da BBC World News na China.
O governo chinês acusou repetidamente a emissora britânica de produzir reportagens “falsas e fabricadas” sobre o país, especialmente depois que a BBC transmitiu uma entrevista com uma mulher uigur culpando Pequim pelo estupro, abuso sexual e tortura contra mulheres uigures nos chamados de campos de reeducação de Xinjiang.
Na 4ª feira (31.mar.2021), o Clube de Correspondentes Estrangeiros da China emitiu comunicado descrevendo o assédio de Sudworth e seus colegas como “parte de um modelo maior de assédio e intimidação que obstrui o trabalho de correspondentes estrangeiros na China”.
Ascensão da mídia estatal chinesa
À medida que mais jornalistas deixam o país, a imprensa mundial pode esperar um declínio nas reportagens investigativas da China, alerta Lim. A jornalista diz que o êxodo dá ao país a oportunidade de circular amplamente sua própria mídia estatal, já que as organizações de notícias estrangeiras terão um espectro menor de conteúdo para escolher.
“Se eles [os meios de comunicação estrangeiros] não tiverem um correspondente que possa filmar na China, é mais provável que usem materiais da emissora estatal chinesa CGTN”, disse Lim.
Mas todo o processo é “contraproducente”, pois a China ainda precisa de jornalistas estrangeiros para ajudar a manter o resto do mundo atualizado com suas atividades, acrescentou. “Quando eles se livram dos jornalistas experientes, a China se torna ainda mais uma caixa preta e acho que isso pode ser contraproducente para o país”, concluiu.
De acordo com Butler, a expulsão de repórteres estrangeiros também é contraproducente para a China porque ela não apenas “tem muito a esconder”, mas “também tem muito do que se gabar”. “Nós perdemos essas duas coisas agora”, disse ele.
Chamadas para negociações
Os correspondentes no país asiático precisam ficar mais vigilantes, advertiu Butler. “Acho que os jornalistas estrangeiros na China precisam estar ultraconscientes de seus arredores e das possíveis implicações de segurança do que estão fazendo. Eles precisam tomar medidas extras para garantir também sua segurança digital”.
Em última análise, segundo Butler, os governos estrangeiros precisam manter conversações com Pequim e ampliar as negociações sobre o comércio para incluir a liberdade de imprensa e o “acesso cultural”.
“A maneira mais provável de isso acontecer… é quando, em algum momento, o Ocidente precisar reavaliar o amplo relacionamento com a China e colocar a cobertura da mídia na mesa como parte das negociações mais amplas”, concluiu.
Com informações do Poder360