Após cinco semanas de intensas negociações, a Comissão da ONU sobre o Estatuto da Mulher adotou, nesta sexta-feira (26), uma declaração considerada mínima. A Europa acusa a Rússia de obstruir as negociações e de retroceder em relação aos direitos básicos.Embora essas negociações anuais devessem ter sido mais simples do que as anteriores – agora com um novo governo nos Estados Unidos menos conservador do que o de Donald Trump -, elas foram “as mais difíceis e tensas em três anos”, lamentou um diplomata, que pediu anonimato e citou “uma grande decepção”.

No início da 65ª sessão da Comissão, os negociadores tinham 50 páginas e 80 parágrafos sobre a mesa. No final, o texto acabou ficando com 24 páginas e 64 parágrafos. Seções inteiras da declaração dedicadas ao assédio sexual, igualdade de gênero ou defesa dos direitos das meninas desapareceram, segundo a agência de notícias AFP, que teve acesso a diferentes versões do texto.

Lamentando a versão final do documento, o embaixador adjunto alemão na ONU, Günter Sautter, denunciou “as tentativas sistemáticas de algumas delegações de inviabilizar o processo e questionar os compromissos e obrigações internacionais em matéria de igualdade de gênero”. Isso “mostra que a repressão aos direitos das mulheres continua”, criticou.

Rússia atrapalha negociações

Mais explícito, outro diplomata europeu que pediu anonimato afirmou que “a Rússia desempenhou um papel excepcionalmente preocupante nas negociações”, sem querer chegar a acordos. “O resultado do baixo denominador comum de hoje mostra que o retrocesso dos direitos das mulheres continua na ONU e que a Rússia está fazendo tudo o que pode para minar o progresso na questão”, disse.

Durante a sua intervenção perante a Assembleia Geral da ONU, a delegação russa limitou-se a assinalar que as negociações foram conduzidas “de forma respeitosa e inclusiva”. A questão da proteção das mães poderia ter sido melhor defendida, acrescentou Moscou.

Enquanto o texto original criticava a extensão dos ataques a mulheres e meninas, incluindo assédio sexual, a versão final indica que este último “em espaços públicos e privados, incluindo escolas e locais de trabalho, assim como nos contextos digitais, leva a um ambiente hostil”.

Sem ser muito agressiva na sua formulação, a Comissão também “reconhece que a desigualdade entre os sexos continua a traduzir-se em desequilíbrios de poder entre mulheres e homens em todas as esferas da sociedade”.

Com informações da RFI