Pelo menos 11 pessoas foram mortas durante protestos em Mianmar neste sábado (13), após uma violenta noite de repressão, na qual centenas de manifestantes desafiaram o toque de recolher para realizar vigílias pelos mortos desde que os militares tomaram o poder. Os manifestantes denunciam que as forças de ordem bloqueiam a tiros o socorro aos feridosDesde o golpe de 1º de fevereiro, a junta militar que assumiu o poder reprime um movimento de protesto sem precedentes, tentando detê-lo de forma cada vez mais violenta, com munição real. Até agora, ao menos 70 manifestantes morreram, de acordo com a ONU até a sexta-feira (12).Mesmo assim, grandes manifestações continuam a ocorrer em todo o país para exigir a libertação da líder Aung San Suu Kyi, presa do dia do golpe, e o retorno da democracia. Não foi diferente neste sábado.

Em Mandalay, a segunda maior cidade do país, as forças de segurança reprimiram duramente a mobilização, durante a qual cinco manifestantes foram mortos a tiros e mais de 20 pessoas ficaram feridas, incluindo um monge. Outra pessoa perdeu a vida em Pyay, no centro de Mianmar, e mais duas na capital econômica do país, Rangun.

Durante a noite, outros três manifestantes já tinham morrido em Yangon, a capital econômica do país. Segundo imagens verificadas nas redes sociais, eles morreram durante confrontos com os militares.

“Eles agem como se estivessem em uma zona de guerra, contra pessoas desarmadas”, declarou Myat Thu, de Mandalay, à agência Reuters. Ela afirma que uma das vítimas era um adolescente de 13 anos.

“As forças de segurança primeiro impediram a ambulância de chegar até as pessoas feridas. Só autorizaram uma aproximação mais tarde”, disse outro manifestante que preferiu manter o anonimato, por temer represálias. “Demorou tanto que um dos feridos, em estado crítico, acabou morrendo.”

Antes que esses distúrbios estourassem, centenas de manifestantes na noite de sexta-feira desafiaram o toque de recolher em vigor para realizar várias vigílias à luz de velas em todo o país. Perto de Yangon, em Hledan – que por várias semanas foi o epicentro dos protestos – vários manifestantes carregando imagens de Suu Kyi sentaram-se e oraram, enquanto seguravam velas acesas em homenagem aos mortos nas mobilizações contra o golpe de Estado militar.

“Honrar os heróis caídos”

“Ignoramos o toque de recolher para honrar os heróis caídos”, disse o ativista Thinzar Shunlei Yi à AFP.

Na manhã de sábado, o funeral de uma das vítimas, Chit Min Thu – que morreu na quinta-feira, junto com outras oito vítimas – atraiu uma grande multidão.

Além disso, neste sábado, a imprensa estatal afirmou que Zaw Myat Linn, um líder comunitário ligado ao governo civil deposto, “saltou” do local onde se encontrava para interrogatório terça-feira, caindo sobre um tubo de aço e morrendo.

A morte de Zaw foi denunciada por órgão de assistência aos presos políticos. A mídia oficial alertou que medidas severas seriam aplicadas contra aqueles que divulgassem outras versões da morte do líder comunitário.

Na quinta-feira, o maior especialista da ONU em Mianmar, Thomas Andrews, disse ao Conselho de Direitos Humanos que “as evidências estão crescendo” de que os militares e seus oficiais de alto escalão “provavelmente cometeram crimes contra a humanidade, incluindo assassinatos, desaparecimentos forçados, perseguição, tortura e prisão em violação do (…) direito internacional”.

A junta também intensificou a repressão à imprensa, com cinco jornalistas indiciados na sexta-feira, incluindo um fotógrafo da agência Associated Press, que foi detido no mês passado enquanto cobria uma manifestação em Yangon.

Acusados de “causar medo, espalhar notícias falsas ou questionar direta ou indiretamente um funcionário do governo”, eles poderiam ser sentenciados entre dois e três anos de prisão, de acordo com a nova lei aprovada pelo conselho.

Atuação internacional

Os governos dos Estados Unidos, da Austrália, Índia e Japão tentaram, na sexta-feira, iniciar uma cooperação para favorecer o retorno à democracia em Mianmar. Um porta-voz da junta não respondeu aos pedidos de entrevista para comentar a iniciativa.

Já a Coreia do Sul anunciou a suspensão dos acordos de defesa e que vai reavaliar a ajuda ao desenvolvimento que concede ao país. A Rússia também advertiu que está “preocupada” com o aumento da violência e que analisa uma “eventual suspensão das cooperações militares com o Exército birmanês”.

Com informações da Reuters