(ANSA) – Uma investigação dos carabineiros do Núcleo de Tutela da Saúde (NAS) de Palermo e da Procuradoria de Trapani revelou um esquema fraudulento sobre os dados da pandemia de Covid-19 dentro do governo da Sicília, na Itália.

Por conta disso, três pessoas foram presas em regime domiciliar pelas acusações de falsidade material e ideológica nesta terça-feira (30): a diretora-geral do Departamento Regional para Atividades Sanitárias e Observatório Epidemiológico (Dasoe), Maria Letizia Di Liberti, o funcionário público, Salvatore Cusimano, e um funcionário da empresa de tecnologia que gerencia o fluxo de informações locais, Emilio Madonia.

Já o assessor regional de Saúde, Ruggero Razza, foi notificado pelo caso e terá que depor na Justiça também sob a acusação de falsidade material e ideológica.

Segundo a denúncia, os funcionários da Secretaria de Saúde manipularam os dados da região nos envios diários ao Instituto Superior de Saúde (ISS), órgão do governo italiano, nos últimos cinco meses para não fazer com que a Sicília entrasse na classificação da faixa vermelha de risco, ou seja, o lockdown.

O caso foi descoberto, praticamente, por acaso. No fim do ano passado, os procuradores decidiram investigar mais profundamente um episódio envolvendo um laboratório de Alcamo. A empresa tinha divulgado que tinha cometido um grande erro em centenas de exames de detecção do coronavírus, dizendo que eles tinham dado negativo, mas na realidade eram positivos.

Por isso, os investigadores pediram autorização da Justiça para interceptar sigilosamente conversas telefônicas que também envolviam a assessoria de Saúde regional. No entanto, desde novembro, os policiais começaram a ouvir diversas conversas falando em omitir ou manipular os dados diários.

Em uma delas, Di Liberti e Razza conversam sobre os altos números de mortes de cada hospital local e dizem que vão “espalhar os dados” por vários dias. Também é possível ouvir o assessor falando que está “muito decepcionado” pelos dados críticos não terem sido informados para ele. De acordo com a investigação, a reclamação ocorreu um dia após a Sicília ter sido classificada como zona laranja – a segunda mais restritiva.

Conforme informe dos carabineiros, foram ao menos 40 episódios de documentação falsa entre novembro e 19 de março. Por conta disso, a casa de sete pessoas – incluindo os três detidos – foram revistadas e documentos foram apreendidos.

Os militares ressaltaram que “mesmo que ainda não emergiu um compêndio para uma investigação grave, emergiu o parcial envolvimento de Razza nas atividades delituosas do Dasoe”.

Após a revelação do escândalo, Razza entregou seu cargo ao governador Nello Musumeci. “Para retirar o governo das inevitáveis polêmicas, eu pedi ao governador da região que aceite a minha demissão. À luz das investigações da Procuradoria de Trapani que me vê como indagado, ao confirmar meu máximo respeito à magistratura, desejo ressaltar que na Sicília a epidemia sempre foi monitorada com cuidado, como evidencia cada elemento objetivo, a partir da ocupação hospitalar e da rapidez das decisões na nossa região”, ressaltou.

Razza ainda negou que tenha participado de qualquer manipulação de dados e que provará que é inocente.

Musumeci se manifestou através de nota oficial e disse que confia em Razza.

“Eu li nas agências e é inútil dizer, nesse momento, que estou surpreso. Nós sempre antecipamos as zonas vermelhas, nunca as escondemos: isso é história. Mas, é preciso respeitar a magistratura, tenho confiança no assessor Ruggero Razza, e se fosse responsável sozinho, eu tomaria as decisões necessárias. Mas, precisamos ser serenos e confiantes e tenho certeza que a verdade emergirá rapidamente”, afirmou.

Conforme os dados oficiais, divulgados pelo Ministério da Saúde com base no ISS, a Sicília tem 172.450 casos confirmados de Covid-19 desde o início da pandemia e 4.607 mortes desde o início da pandemia.

Com informações da ANSA