Last updated on março 19th, 2021 at 08:02 pm
Tudo começou quando o deputado Georg Nüsslein, filiado à União Social Cristã (CSU), braço da CDU na Baviera, foi colocado sob investigação por suborno após acusações de que teria aceitado dinheiro em troca de lobby por um fornecedor de máscaras durante a primeira onda da pandemia, em abril de 2020. Por seu papel de intermediário, Nüsslein teria embolsado 600 mil euros, ou R$ 4 milhões.
Já o deputado Nikolas Löbel, que representava o estado de Baden-Württemberg no Parlamento, era membro da base do governo de Angela Merkel até renunciar na segunda-feira, 8. Sua empresa estaria por trás de contratos fraudulentos de vendas de máscaras FFP2 fechados entre um fornecedor em seu estado e duas empresas alemãs do setor de saúde. Os valores das comissões somariam 250 mil euros, ou R$ 1,7 milhão.
Efeitos políticos
A revelação do caso de Löbel aconteceu no começo de março, quando a imprensa alemã teve acesso a um email revelador enviado pelo próprio político a um potencial comprador. No texto ele diz que a empresa não estava recebendo novos pedidos, mas que ele poderia “dar um jeito” em troca de 12 centavos de euro por cada máscara. Após tentar se segurar ao cargo, o político acabou renunciando e disse: “Assumo a responsabilidade por minhas ações e assumo as consequências políticas necessárias”. Há ainda indícios de que outros membros do alto escalão do governo estejam envolvidos em desvios ligados à pandemia. Para o cientista político da FGV-EAESP Guilherme Casarões, é interessante perceber a velocidade das investigações e a postura dos próprios correligionários, que pediram o afastamento dos parlamentares. “A situação é muito diferente do Brasil, onde até as suspeitas de desvios foram politizadas e entraram para a queda de braço entre governo e oposição na condução da pandemia”, afirma.
Angela Merkel, até o fechamento desta edição, não havia se pronunciado especificamente sobre o “Caso das Máscaras”, como vem sendo tratado o tema pela imprensa internacional. Em quase 16 anos no cargo, ela enfrentou com sucesso diversas crises: a crise financeira global em 2008, as ameaças de dissolução da União Europeia, a grande onda migratória em 2015, a legalização da união homoafetiva e a pandemia de Covid-19. Foi a primeira mulher a governar o país e disse, em 2018, que não buscaria um novo mandato. “Como chanceler e líder da CDU, sou politicamente responsável por tudo, pelos sucessos e pelos fracassos”, declarou na época.
O novo candidato a primeiro-ministro, que agora enfrenta baixa popularidade, é o político centrista Armin Laschet, um candidato da continuidade. Conhecido por sua política liberal, apreço pela União Europeia e tolerância aos imigrantes, Laschet deve enfrentar uma dura campanha nas eleições nacionais que acontecem dentro de seis meses. O país vai às urnas dia 26 de setembro e o pleito é o primeiro em que os conservadores enfrentarão a oposição sem a serenidade de Merkel. O escândalo das máscaras, porém, deverá afetar fortemente o ambiente eleitoral.
Com informações da Reuters