As manobras para tentar desencalhar o megacargueiro Ever Given, que obstrui o canal de Suez desde terça-feira passada, tiveram sucesso parcial na madrugada desta segunda. O brigadeiro Osama Rabie, chefe da Autoridade do Canal de Suez e responsável pela operação, informou pela manhã, através de um porta-voz, que o navio começou a flutuar “satisfatoriamente” e que sua posição já pôde ser modificada em 80%. O tráfego também foi restaurado, de acordo com a Reuters. O militar acrescentou que, graças às manobras de empurrar e rebocar, a popa da embarcação foi levada a 102 metros da margem, em vez dos 4 metros anteriores, uma mudança que pode ser observada inclusive nos mapas dos rastreadores de tráfego marítimo.
O presidente do Egito, Abdel Fatah al Sisi, manifestou pelo Facebook seu otimismo com o desbloqueio do canal: “Hoje, os egípcios conseguiram pôr fim à crise, apesar da enorme complexidade técnica que cercou o processo”, declarou. Entretanto, a proa permanece encalhada, e Peter Berdowski, executivo-chefe da empresa Boskalis, encarregada do resgate do Ever Given, tratou de rapidamente esfriar o entusiasmo do presidente militar. “Não cantemos vitória cedo demais”, afirmou ele à rádio holandesa NPO. “As boas notícias são que a popa está livre, mas vimos que essa é a parte mais simples do trabalho.”
O prestador de serviços marítimos Inchcape Shipping e a companhia Leth Agencies também confirmaram o sucesso parcial da operação. Em seguida, estava previsto que as manobras fossem retomadas quando a maré no canal alcançasse dois metros, seu nível máximo, por volta de 11h30 desta segunda (6h30 em Brasília), a fim de modificar por completo o rumo do casco em direção ao centro da via navegável. Os técnicos injetarão água a alta pressão sob a proa para remover a areia e barro que bloqueiam o navio, mas, se esta operação fracassar, os contêineres terão que ser retirados navio para reduzir seu peso, segundo Berdowski. Entretanto, caso a operação dê certo, a navegação será retomada em três dias e meio, segundo declarações de Rabie citadas pela agência AFP. O militar já ordenou revisões técnicas de alguns dos navios que fazem fila―367, segundo a Leth Agencies―, prevendo a retomada da circulação, segundo o comunicado
O anúncio do desencalhe ocorreu depois que, na sexta-feira, houve pela primeira vez um “progresso significativo” na zona da popa, o que permitiu liberar o navio do banco de areia, incluído o leme, segundo um comunicado do porta-voz da empresa Bernhard Schulte Shipmanagement, encarregada das questões técnicas do navio. As dragas se centraram desde então em retirar areia e lodo que estavam junto ao lado de bombordo (esquerdo) da proa, e se esperava que uma maré favorável e a lua cheia acabassem criando as condições ideais para deslocar a embarcação. Rabie tinha explicado durante uma entrevista coletiva no sábado que os especialistas haviam conseguido movimentar o leme e também um hélice, o que, junto com a chegada de novos rebocadores, devia ajudar a desencalhar o navio. “O cenário que mobilizamos [na sexta-feira] foi bastante bem-sucedido”, havia dito Rabie. Desde a noite de domingo foram retiradas mais de 20.000 toneladas de areia e lodo da área ao redor do navio, segundo um comunicado da empresa Evergreen, que opera o Ever Given.
O bloqueio do canal de Suez representava uma ameaça de primeira ordem às cadeias de suprimento globais. Pouco mais de 10% do comércio mundial passam pelos 190 quilômetros desta via navegável, que conecta o mar Vermelho ao Mediterrâneo, segundo estimativas da Autoridade do Canal de Suez. Trata-se de um dos caminhos navais mais importantes do planeta para o transporte de gás, petróleo e mercadorias em contêineres. O tráfego marítimo diário através do canal de Suez é estimado em 9,6 bilhões de dólares (55,25 bilhões de reais), segundo uma estimativa elaborada pela empresa Lloyd’s List, especializada em informação sobre comércio marítimo. A infraestrutura também representa uma das principais fontes de divisas estrangeiras para o Egito.
A estratégia de resgate na qual a Autoridade do Canal de Suez apostou consistiu em combinar o trabalho de escavadoras e dragas―que se encarregam de extrair areia das margens do canal para abrir espaço e retirar o fundo onde ficaram encalhadas a proa e a popa, a fim de facilitar movimentos que favoreçam a flutuação do navio―com o de rebocadores, que tratam de arrastar o barco para endireitá-lo em relação ao traçado do canal. No pior dos cenários, se contemplava liberar parte da carga a bordo do Ever Given, uma operação mais complexa, que levaria dias ou semanas.
Com informações do El Pais