A publicação deste domingo tenta endossar uma narrativa sustentada nos bastidores por aliados do chanceler sobre qual seria o motivo de sua “fritura”, a de que, sem ele no governo, o caminho estaria livre para os asiáticos entrarem no mercado brasileiro do 5G. Parte da equipe de Ernesto entende que o ministro virou um para-raio e sofre lobby contrário de chineses, que intensificaram o diálogo direto com o Congresso e reclamaram dele para o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL).
Há, no entanto, uma avaliação generalizada e vocalizada de que Ernesto é responsável pelo fracasso das negociações internacionais para a compra de vacinas contra a covid-19 e isso é o que tem motivado a pressão recente pela sua saída do cargo. A gestão dele à frente da política externa brasileira está sendo contestada e reprovada não só pela cúpula do Congresso, mas também por economistas, empresários, militares, governadores, prefeitos e até por diplomatas.
A empresa chinesa Huawei é uma das interessadas em atuar na tecnologia de quinta geração (5G) de telefonia no Brasil. Ernesto, no entanto, já expressou apoio a uma iniciativa do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump para que países aliados excluíssem de suas redes equipamentos de indústrias consideradas por eles pouco seguras, como a da companhia asiática. No ano passado, Ernesto se envolveu em polêmica com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, no mesmo tema. Em novembro, o chanceler saiu em defesa do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que, nas redes sociais, havia associado o governo chinês à “espionagem” por meio da tecnologia 5G. Na ocasião, o presidente Bolsonaro chegou a elogiar Ernesto pela iniciativa.
A senadora Kátia Abreu é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, onde cresce um movimento para barrar a análise de qualquer indicação de embaixador – prerrogativa do colegiado – enquanto Ernesto continuar como ministro do governo de Jair Bolsonaro.
“É uma compreensão que passa por todos os membros da comissão. É uma forma de pressionar o governo a substituir o cidadão que é totalmente incapaz de dirigir o nosso Itamaraty. A forma é essa, não apreciarmos nenhuma indicação de embaixador do Brasil no exterior até isso estar resolvido”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (AP), líder da Rede no Senado.
A oposição e o Centrão trabalham juntos pela saída de Ernesto. Na sexta-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), avisou Bolsonaro de que o Congresso não dará trégua enquanto não houver mudança na condução da política internacional. Os dois tiveram uma conversa na residência oficial do Senado, mas Bolsonaro admitiu disposição de dispensar agora somente o assessor especial para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, que é investigado pela Polícia Legislativa por causa de um gesto feito por ele durante uma sessão no Senado que foi interpretado como expressão da “supremacia branca”.
O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), vê a permanência de Ernesto no governo como um empecilho para o Brasil conseguir ampliar a compra de insumos e vacinas para combater a pandemia. “A não saída do Ernesto dificulta vacinação, dificulta insumo, tudo”, disse Pinato. “Chegamos em um momento, que antes de conseguirmos realmente combater essa pandemia, nós temos que combater um vírus pior que é essa ala ideológica que deixou o País ilhado e isolado e, principalmente, esses soltadores de fake news nas redes sociais confundiram a cabeça do povo”.
A reportagem procurou a senadora Kátia Abreu para se manifestar sobre a fala do chanceler, mas não teve resposta até o fechamento deste texto.
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