O presidente Joe Biden sinalizou que ficou para trás o tempo em que o governo americano deixava passar abusos da Arábia Saudita, especialmente sob o comando do príncipe Mohammed bin Salman. A abordagem dos EUA com o reino será mais enérgica em relação à de seu antecessor Donald Trump. Prova disso é o fim do apoio americano à coalizão que atua há cinco anos no Iêmen para combater os houthis.

País mais pobre do mundo árabe e palco da que é considerada a maior tragédia humanitária da atualidade, o Iêmen tem 80% de sua população necessitando de ajuda. Além de suspender o apoio às ofensivas militares contra os rebeldes houthis, alinhados ao Irã, o governo de Joe Biden deixa de vender armas para a Arábia Saudita. Promete também reverter a decisão de Trump, que na véspera de deixar o cargo, classificou como terrorista o grupo rebelde, que leva o nome de Ansar Allah.

Biden quer usar a diplomacia para acabar com a guerra civil, conforme ele assinalou num discurso nesta quinta-feira no Departamento de Estado: “Os EUA estão de volta. A diplomacia está de volta ao centro de nossa política externa. Vamos consertar nossas alianças e nos envolver com o mundo mais uma vez.”

Isso significa não deixar passar erros e romper com a estratégia conivente que ditou os rumos da relação entre os dois países. O governo Biden não aprova a conduta de Trump em relação ao brutal assassinato do jornalista e crítico do regime Jamal Khashoggi, em 2018, no interior da Embaixada da Arábia Saudita na Turquia, por asseclas do príncipe saudita. A maioria no Congresso votou para cortar a ajuda à Arábia Saudita, mas o ex-presidente vetou a medida.

Como explicou Elana DeLozier, do Instituto de Políticas para o Oriente Médio de Washington, à emissora de rádio NPR, funcionários do atual governo americano expressaram sérias preocupações em relação ao príncipe herdeiro, sobretudo na questão dos direitos humanos. “Biden usou uma linguagem bastante dura especificamente contra Mohammed bin Salman, chamando-o de pária. E essa é uma linguagem realmente difícil com a qual não estamos acostumados.”

A mudança de estratégia dos EUA, encerrando o apoio à ofensiva de ataques aéreos da coalizão liderada pelos sauditas, marca distância de Trump e também de Obama, que apoiou o início da ação militar no Iêmen. A solução política de Biden parte da nomeação de um enviado especial para o Iêmen, o veterano diplomata Timothy Lenderking, com vasta experiência na região.

Seu primeiro desafio é obter um cessar-fogo entre sauditas e emiratis e o grupo rebelde vinculado ao Irã, num conflito que já matou mais de 200 mil iemenitas — pela guerra ou pela fome — dividiu o país e desalojou oito milhões de suas casas. A ação de Biden susta o cheque em branco assinado por Trump ao reino saudita.

Politibola com infomaçõs do G1