Ao apresentar a mudança na noite desta quarta-feira (3), o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, afirmou que a atuação da Anvisa em relação aos usos emergenciais “tem como objetivo ampliar o acesso a vacinas que são demonstradamente eficazes, seguras e tem qualidade”. Apesar da vantagem regulatória, as duas vacinas já incorporadas ao Programa Nacional de Imunização (PNI) ainda dependem da importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para poder finalizar as doses e distribuí-las e, em meio aos atrasos nas entregas e escassez no mercado, têm dificuldade de atender à demanda com a agilidade necessária. Do outro lado, a Sputnik já teve a tecnologia incorporada pela União Química, que garante produção autônoma com capacidade de oito milhões de doses por mês.
A decisão da Anvisa ocorre em meio a pressões para que a agência conceda a autorização de uso emergencial à vacina russa. Governadores do Consórcio Nordeste, por exemplo, vinham pedindo celeridade da agência e já estavam negociando a aquisição de 50 milhões de doses da vacina. O governo da Bahia foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) para conseguir a liberação do imunizante no país.
As alterações que facilitam a incorporação da Sputnik V ao PNI foram definidas um dia depois da publicação, na Revista The Lancet, dos resultados intermediários da vacina, revelando 91,6% de eficácia. Na análise, revisada por pares, a candidata foi considerada segura e revelou que, durante o estudo, não houve casos adversos graves relacionados à vacina. Outra descoberta importante é a imunogenicidade da vacina, que chegou a desenvolver entre 1,3 e 1,5 vez mais anticorpos do que pessoas que se recuperam naturalmente da Covid-19.
Em resposta à publicação, a Anvisa emitiu uma nota considerando ser esta uma “boa notícia”, mas sem deixar de ressaltar a necessidade de submeter todos os dados ao crivo do corpo técnico. “Para se concluir sobre a eficácia e segurança da vacina, a autoridade reguladora precisa ter acesso aos dados completos gerados nos estudos não clínicos e clínicos das fases 1, 2 e 3”, frisou.