À frente da Câmara dos Deputados desde 2016, com três mandatos consecutivos, Rodrigo Maia (DEM-RJ) tenta, agora, eleger seu sucessor, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), na disputa pelo comando da Casa. Faltando uma semana para o fim da sua gestão, o democrata tem apostado todas as suas fichas em rivalizar com o presidente Jair Bolsonaro para manter um elo com as diversas bancadas do Congresso.
Nos últimos dias, Maia usou a gestão do Ministério da Saúde em relação aos planos de vacinação contra a Covid-19 e a crise em Manaus para potencializar as críticas ao Palácio do Planalto. Ele também se reuniu com representantes da Embaixada da China no Brasil para tratar da entrega de insumos para a produção da CoronaVac pelo instituto Butantan.
Segundo aliados, a subida de tom contra o Palácio do Planalto é uma forma de Maia se manter no discurso político. Além disso, ele poderia faturar politicamente com o desgate do governo brasileiro com a China.
Recentemente, Maia esteve ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), responsável pelas negociações da CoronaVac, quando afirmou que a discussão do impeachment de Bolsonaro será “inevitável” no futuro. Contando com os votos da oposição para eleger Baleia Rossi, a aceitabilidade de um processo do tipo é uma demanda recorrente das siglas de esquerda.
“Eu acho que esse tema de forma inevitável será discutido pela Casa (Câmara) no futuro”, diz Maia. O democrata, no entanto, ressaltou que tal pedido vai depender do próximo presidente da Câmara. Presente no evento, Rossi evitou falar se pautaria ou não um impeachment de Bolsonaro caso vença a disputa.
Próximo a Rodrigo Maia, o deputado Fábio Trad (PSD-MS) afirma que o democrata acertou em não ter pautado nenhum dos pedidos contra o Bolsonaro. “O impeachment é uma expressão conjugada de fator político e jurídico. Apesar de algumas condutas antijurídicas do Bolsonaro,a leitura dele (Maia) é a que não havia clima político para dar prosseguimento em um processo do tipo. O presidente ainda conta com uma certa popularidade e tem apoio de vários grupos dentro do Congresso”, avalia Trad.
O posicionamento, no entanto, é questionado pela deputada Fernanda Melchionna (PSol-RJ), que alega que a falta de um processo contra Bolsonaro colaborou para o colapso sanitário do país. “Desde março, tínhamos claro que tirar Bolsonaro era uma medida sanitária. Hoje, emendamos a segunda onda na primeira da covid-19, não temos previsão de vacinação, e vivemos uma crise gravíssima em Manaus. Mais de 210 mil vidas perdidas não é acidente. Maia deveria ter cumprido seu papel como presidente da Câmara e ter aberto o pedido de impeachment”, argumenta a psolista.
O partido de Melchiona foi o único da oposição que não aderiu à candidatura de Rossi e lançou a deputada Luiza Erundina na disputa.
Desgaste
Apesar de ter levado crédito por ter aprovado matérias como a emenda constitucional do teto de gastos (2016), e as reformas trabalhista (2017) e da previdência (2019), Maia chega ao fim da sua gestão com menos prestígio entre os parlamentares. Internamente, alguns congressistas afirmam que o democrata acabou se atropelando no processo de escolha do seu candidato na corrida pela sua sucessão.
“Ele é meu amigo e no total foi um ótimo presidente da Casa. Entretanto, a condução que ele deu para escolher seu candidato atrapalhou nessa reta final. Ele tinha muito prestígio, mas faltou ele ser mais contundente durante o julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) que poderia permitir a sua reeleição”, afirma um aliado de Maia ao Correio.
Em dezembro passado, a Corte rejeitou a possibilidade de reeleição para as duas Casas do Legislativo dentro da mesma legislatura. Enquanto Davi Alcolumbre (DEM-AP) atuava abertamente para se reeleger presidente do Senado, Rodrigo Maia não cravava se seria candidato ou não.
“As declarações dele eram vagas. E mesmo com uma boa base, os deputados queriam um rodízio na presidência. Enquanto isso, o adversário foi ganhando espaço”, completou outro parlamentar.
Todo esse imbróglio para escolher quem seria seu candidato na disputa acabou resultando em um racha até dentro do seu partido. Integrantes do DEM estão divididos e parte dos 29 deputados da sigla embarcou na campanha de Arthur Lira (PP-AL).
Outros parlamentares da sigla, como Arthur Maia (BA), Carlos Henrique Gaguim (TO), Luis Miranda (DF), David Soares (SP) e Pedro Lupion (PR), não ficaram contentes com a escolha de Rodrigo Maia e devem, também, votar em Lira, candidato do Planalto.
Mesmo com esses desgastes internos dentro do DEM, Rodrigo Maia vai tentar usar sua influência com os diversos partidos tentar construir uma candidatura de centro para enfrentar Jair Bolsonaro em 2022. Caso eleja Baleia Rossi, o democrata poderá seguir com influência na pauta e, com isso, ter mais poder nas construções de suas alianças. Maia tem atraído para o seu grupo João Doria, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes e o apresentador de TV Luciano Hulck.
Em dezembro, ao ser questionado qual seria seu futuro político, Maia afirmou que não pretende voltar a ser deputado federal. Sobre o Senado, o democrata afirmou que não quer seguir na outra Casa do Legislativo.
Apesar disso, tem sinalizado para pessoas próximas que poderia disputar algum cargo no Executivo. A depender dos acordos, o atual deputado já declarou que poderia entrar como vice em alguma chapa presidencial, ou ainda disputar o governo do Rio de Janeiro. Com a derrocada de Wilson Witzel no estado e a eleição de Eduardo Paes (DEM) para a prefeitura do Rio, o caminho para Maia chegar ao governo estadual poderia ser uma escolha para 2022.
Politibola com informações do DP
Por Ailton Cavalcanti