Imagem da sala de audiência onde membros de uma das máfias italianas, a Ndrangheta, serão julgados, em 13 de janeiro de 2021 — Foto: Gianluca Chininea / AFP

Um processo gigante contra centenas de suspeitos de pertencerem à poderosa máfia calabresa, a ‘Ndrangheta, começa nesta quarta-feira (13) em uma imensa construção fortificada em Lamezia Terme, região central da Calábria.

Entre os acusados, estão ‘chefes’ de alto escalão, empresários, dirigentes administrativos, mas também políticos e policiais.

 A lista de crimes é muito longa: assassinatos, associação mafiosa, tráfico de drogas, porte ilegal de armas, lavagem de dinheiro, ocultação, agiotagem e até mesmo abuso de poder. É um julgamento sem precedentes, que não se compara nem ao julgamento contra a Cosa Nostra, a máfia siciliana, ocorrido em Palermo, entre 1986 e 1987, quando 338 pessoas foram condenadas.

A ‘Ndrangheta, que tem cerca de 20.000 afiliados, é outra forma de organização criminosa. Na verdade, é a única máfia presente nos cinco continentes e cujas raízes e clãs permanecem ancorados na Calábria. É uma espécie de multinacional que se enriquece principalmente com o tráfico de cocaína, importada da América do Sul. Com isso, segundo especialistas, a máfia calabresa ganha € 50 bilhões (R$ 325,37 bilhões) por ano.

Para se chegar a esse julgamento, durante o qual serão chamados a depor 355 réus, 913 testemunhas – incluindo ex-mafiosos arrependidos – e mais de 350 advogados, foram necessários quatro anos de investigações. Um promotor que cresceu com futuros chefes dessa máfia, o procurador de Catanzaro, Nicola Gratteri, é o mais famoso dos magistrados italianos antimáfia. Ele é considerado o herdeiro dos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, ambos assassinados em 1992.

Juiz passou infância com atuais chefões

Nicola Gratteri, de 62 anos, nasceu em Gerace, uma aldeia no coração da Calábria, onde cresceu com os filhos de chefes locais que, por sua vez, se tornaram chefes da Máfia. Frequentavam a mesma escola, jogavam futebol juntos e muitas vezes presenciaram juntos a visão de cenas de crimes no meio da rua. Gratteri vive sob escolta policial há mais de trinta anos.

Uma fortaleza de 3.000 metros quadrados, equipada com 64 câmeras de vigilância, foi instalada em uma antiga área industrial em Lamezia Terme, uma cidade no centro da Calábria. Tudo é planejado para respeitar as regras anti-Covid e separar as entradas para os acusados, as testemunhas, os advogados e os juízes.

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O julgamento durará pelo menos dois anos. Segundo declarações do procurador Nicola Gratteri, o processo ajudará a aprofundar o conhecimento sobre o funcionamento da ‘Ndrangheta’ e a combater melhor as ligações entre os clãs mais poderosos desta máfia e os trabalhadores de colarinho branco.

Politibola com informações da RFI
Por Ailton Cavalcanti