Brazilian President Jair Bolsonaro delivers a speech after holding a meeting with US National Security Advisor Robert O'Brien at Itamaraty Palace in Brasilia, on October 20, 2020. - The United States and Brazil signed three agreements Monday they said would expand and deepen their existing trade deal, the latest bonding moment under Presidents Donald Trump and Jair Bolsonaro. The new protocol adds chapters on facilitating trade, regulatory practices and anti-corruption measures. (Photo by EVARISTO SA / AFP)
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Mais uma vez desde o início da pandemia da covid-19, as regras sobre como devem ser estabelecidas as ações de enfrentamento à crise sanitária chegaram à mais alta esfera judicial do país. Agora, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar se a vacina contra o novo coronavírus deve ser obrigatória a todos os brasileiros. A Corte foi acionada por partidos políticos, que apresentaram quatro ações sobre o tema. No cerne da discussão está o presidente Jair Bolsonaro, contrário à aplicação de forma compulsória de um futuro imunizante, e que, ontem, ponderou que o Judiciário não deveria ter competência para julgar esse tipo de questão.

Ao conversar com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro afirmou que caberia à gestão do governo federal definir as normas de imunização. “Entendo que isso não é uma questão de Justiça, mas de saúde. Não pode um juiz decidir se você vai ou não tomar uma vacina. Isso não existe”, disse.
Segundo Bolsonaro, é precipitado definir como deve ser a aplicação de qualquer vacina, sem que haja comprovação da sua eficácia. “Nós queremos é buscar solução para o caso. O que a gente tem de fazer aqui é não querer correr, atropelar e comprar dessa ou daquela sem nenhuma comprovação ainda. A gente aguarda, logicamente, para melhor falar sobre isso, a publicação disso numa revista científica”, frisou.
As declarações de Bolsonaro, num recado ao STF, dividiram a opinião de juristas e médicos. De acordo com o advogado constitucionalista Marcellus Ferreira Pinto, “não se encarta a competência de o STF definir sobre direitos e garantias fundamentais da pessoa, visto que a Constituição é taxativa de que o corpo é inviolável, e a saúde é um direito individual indisponível”. Ele, no entanto, emendou: “Não há, no ordenamento jurídico-constitucional, um dispositivo que obrigue o cidadão a se vacinar. De qualquer forma, no meu entendimento, isso compete à União, pois é uma questão de saúde pública nacional”.
A advogada constitucionalista Vera Chemim acrescentou que deveria ser competência do Executivo a definição sobre a aplicação das vacinas, pois isso é uma política pública de saúde, e que o Judiciário não poderia intervir. Entretanto, ela ressaltou que o problema não está em o STF tomar uma decisão, mas, sim, em o Supremo ser sempre provocado pelo Legislativo a se manifestar. “Estamos, na verdade, diante de uma disfuncionalidade do Poder Legislativo. É ridículo alguns partidos ajuizarem ações em vez de discutirem lá dentro do Congresso. A princípio, os partidos é que teriam de decidir sobre essa questão da obrigatoriedade da vacina ou não, no que se refere à legislação”, criticou.
Prejuízos
Profissionais da saúde temem a politização e a judicialização da vacina contra a covid-19. Infectologista do Hospital Águas Claras, Ana Helena Germoglio disse que “a última coisa que o país precisa é gerar insegurança para a população”. “Precisamos que a população acredite nos dados técnicos que a gente fornece, seja de tratamento, seja de prevenção. E, a partir daí, que a sociedade tire as suas próprias conclusões, se vai vacinar ou não”, analisou.
Ela lembrou que, em fevereiro, o próprio Bolsonaro assinou a Lei 13.979/2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento da pandemia, em que um dos artigos estabelece a aplicação compulsória de uma imunização contra a covid-19. De acordo com Ana Helena, querer mudar o discurso agora por interesses políticos é um risco. “As vacinas, como um todo, são comprovadamente eficazes, seguras e salvam vidas. Com elas, conseguimos ou controlar doenças ou fazer com que as enfermidades se tornem menos graves.”
Chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime frisou que a discussão em torno da obrigatoriedade ou não da vacina tira o foco principal da questão, que é se o futuro imunizante, de fato, funcionará contra o novo coronavírus. “Por isso que a politização é ruim. Não cabe a discussão se a vacina deve ou não ser incluída no calendário de imunizações, mas, sim, se ela é segura”, alertou.
“Uma vacina eficaz e segura é a melhor solução para a covid-19. Aplica-se em uma escala imensa, em milhões de pessoas, e evita-se casos novos. Salvam-se mais vidas e ainda poupa o sistema de saúde. Começar uma briga política muito antes da chegada de uma possível candidata à vacina ao mercado é uma tragédia anunciada”, emendou.
Vacina obrigatória a tendência
O STF tende a adotar uma postura favorável à vacinação compulsória, se houver eficácia comprovada, em dois julgamentos distintos que devem ser levados ao plenário da Corte nos próximos meses. Na semana passada, o presidente da Corte, Luiz Fux, chegou a dizer que a judicialização sobre o tema será “importante” e “necessária”. Os dois julgamentos não têm data. A obrigatoriedade entrou no horizonte do tribunal por causa de quatro novas ações, movidas por partidos, a maior parte contrária às declarações do presidente Jair Bolsonaro. O relator é o ministro Ricardo Lewandowski. Ele já pediu informações ao Planalto. Antes desse julgamento sobre a vacinação da covid-19, porém, o STF deve decidir, em outra ação, de relatoria do ministro Luís Roberto Barroso, se os pais podem deixar de vacinar o filho, tendo como fundamento convicções filosóficas, religiosas, morais e existenciais. O ponto em comum entre os julgamentos é o embate entre o direito coletivo à saúde e a liberdade individual de não se vacinar. A composição atual do STF inclina-se a privilegiar o bem coletivo, ou seja, a vacinação obrigatória.
 Politibola com infomações do Correio Braziliense