O líder da oposição russa Alexei Navalny, que foi envenenado, diz, em entrevista exclusiva à BBC News Rússia, que a recuperação após contaminação pelo agente nervoso Novichok é um longo caminho, com noites sem dormir e movimentos atrapalhados.

Navalny disse que está “muito, muito melhor” e insistiu que, eventualmente, voltará para a Rússia.

A reportagem da BBC encontrou o líder da oposição russa em um hotel rigidamente vigiado em Berlim, depois que ele passou 32 dias no Hospital Charité, na capital alemã, a maioria em terapia intensiva.

Ele sentiu calafrios inicialmente e nenhuma dor, “mas parecia o fim”.

“Não dói nada, não é como um ataque de pânico ou algum tipo de transtorno. No começo você sabe que algo está errado, e então seu único pensamento é: ‘É isso, vou morrer.’ “

Navalny desmaiou em um voo de Tomsk, na Sibéria, para Moscou, em 20 de agosto, e só sobreviveu porque o avião fez um pouso de emergência em Omsk, onde foi levado às pressas para a UTI.

Mais tarde, após negociações de alto nível com as autoridades russas, ele foi transportado de avião para Berlim e tratado lá enquanto era mantido em coma induzido.

Novichok confirmado

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês) confirmou que Navalny, de 44 anos, foi envenenado com um agente nervoso do tipo Novichok.

Em um comunicado, apontou para as semelhanças entre traços encontrados em suas amostras de urina e sangue e armas químicas na lista de substâncias banidas.

Alemanha diz que laboratórios franceses e suecos também concordam com seus cientistas e que Navalny foi “sem dúvida” envenenado com um agente nervoso.

Os agentes Novichok, desenvolvidos por cientistas soviéticos durante a Guerra Fria, são extremamente tóxicos. Uma pequena quantidade pode matar.

Na semana passada, em sua primeira entrevista em vídeo desde que deixou o hospital no final de setembro, Navalny disse acreditar que as autoridades russas o envenenaram para remover a ameaça que ele representava para o domínio deles nas eleições parlamentares do próximo ano.

O governo russo negou qualquer envolvimento em seu envenenamento. Médicos russos que trataram de Navalny disseram não ter encontrado nenhum veneno.

“Afirmo que (o presidente Vladimir) Putin está por trás desse ato, não vejo nenhuma outra explicação”, disse ele à revista alemã Der Spiegel.

Ele passou mal depois de fazer campanha na Sibéria para eleger outros militantes anticorrupção para os conselhos locais.

Ele é um dos críticos do presidente Putin mais conhecidos da Rússia, com milhões de seguidores nas redes sociais, onde expõe a corrupção oficial e denuncia o partido pró-Putin Rússia Unida como “ladrões”.

Navalny se recusa a aceitar uma vida de exílio e disse à BBC: “Há muito tempo que se esforçam para me forçar a sair do país”.

“Não sei como os acontecimentos vão evoluir, não vou correr riscos. Tenho a minha causa, tenho o meu país.”

O opositor de Putin disse que não faz sentido pensar em eventos que ele não tem poder para controlar.

Alucinações

Navalny disse à BBC que no avião, quando o veneno fez efeito, ele se sentiu incapaz de se concentrar em qualquer coisa, embora as pessoas e objetos ao seu redor não parecessem balançar ou ficarem turvos da maneira como ocorre quando o álcool afeta o cérebro.

“Por muito tempo tive alucinações”, disse Navalny. Ele acreditava que sua esposa Yulia, os médicos e seu colega ativista Leonid Volkov estavam dizendo que ele havia sofrido um acidente e tinha perdido as pernas. “O cirurgião ia me dar novas pernas e uma nova coluna”, lembra.

Ele estava convencido de que isso era “totalmente real” e conta que era “atormentado por alucinações à noite”.

“Meu principal problema é dormir. Perdi o hábito de dormir e acho difícil sem soníferos. Nunca tinha tido esse problema. Também tenho tremores nas mãos, são imprevisíveis.”

Navalny disse que estava fazendo exames médicos frequentes, incluindo testes cognitivos, e que, fisicamente, está se recuperando muito rapidamente.

“Às vezes me sinto meio desorientado, faço caminhadas duas vezes ao dia e consigo caminhar por um bom tempo. Para mim, o mais difícil é entrar e sair do carro.”

Navalny expressou alívio por não sentir dor, mas frustração porque até uma coisa simples como jogar uma bolinha “parece um arremesso de peso” no atletismo.

Por BB
Com Politibola